“Na noite, o aliciamento para o consumo de droga é enorme. Os miúdos apanham bebedeiras que os pais nem sonham e nenhum está preparado para beber quatro vodcas sem perder o juízo, ou para se negar a um dealer que lhes ofereça cocaína para arrebitar, charros para acalmar ou LSD para amar.” Uma verdade crua, servida esta semana por Marlon Queiroz à TvMais, num coquetel de conceitos sobre a noite e os adolescentes.
“Já tirei as chaves do carro a miúdos de 18 anos que iriam conduzir à beira do coma”
A noite
Antigo segurança de discotecas, Marlon Queiroz fala de violações, pancadaria, muito álcool, muita droga e muitos excessos. Ao longo de dez anos, conta, foi “porrada à porta com os barrados e porrada no interior, a separar brigas entre clientes”. O medo nunca o travou, excepto quando pensa nos filhos.
“Com as hormonas aos saltos e o álcool a mandar mais que o carácter,
num instante perdemos limites entre consentimento e violação”
Falar, anuir, mas controlar
Pragmático e assertivo, Marlon Queiroz tem 38 anos e dois filhos, um de 20, Mateus, e outro de 10, Lucas. Foi segurança de discotecas durante uma década, tido por duro, aflige-se de morte quando fala dos seus rapazes e da noite. Afinal, conhece-a demasiado bem. Diz que se deve começar bem cedo com as conversas sobre os perigos da droga e do álcool. Aos 16, considera, não é mais possível evitar que eles saiam à noite.
“Os mesmos garotos que lá chegam bem vestidos e aprumados, às 6 da manhã, saem da discoteca ou perdidos de bêbados ou armados em gangsters do bairro”
Dealers
Este antigo segurança da noite diz que sempre lhe custou ver miúdos caídos nas casas de banho, depois de cheirarem umas linhas (cocaína) para mostrarem aos amigos que são cool. Mas reconhece que a oferta e a tentação são muito fortes.
“Os dealers conhecem as dores de alma dos nossos filhos, sabem como
aplacá-las. De repente já eles estão agarrados e nós mal percebemos”
Apontar o dedo
Os pais querem ser porreiros para os filhos por culpas na consciência, diz Marlon, falando de pais que se demitem desse papel por trabalharem muito e estarem ausentes da vida dos filhos. Depois, querem ser vistos como amigos pelos filhos, tudo muito moderno. E esses filhos, continua, perdem as regras porque são órfãos de pais vivos. Têm de, entre várias coisas, estar no quadro de honra e seguir os últimos gritos da moda. É demasiada pressão, exclama.
“A violência e a delinquência juvenil estão a aumentar por haver justamente essa falta de vínculos”
5 CONSELHOS DE UM HOMEM DA NOITE
Proibir as saídas à noite já não é sistema nos tempos que correm. “As discotecas fazem tanto parte do ciclo da vida como as universidades. Os adolescentes devem é ser preparados, o que não acontece em mais de 90 por cento dos casos.” A alternativa é tentar “acompanhar” as primeiras saídas dos filhos.
1 Falar sem reservas sobre as saídas à noite
Falar sobre os amigos, os namorados, o convívio, mas também sobre os perigos de álcool, drogas, pancadaria… Chamar as coisas pelos nomes. Sexo é sexo, drogas são drogas. Não permita eufemismos. Parta do princípio de que vai haver álcool, mesmo que ele jure a pés juntos que não… E alerte-o para ter cuidado com o que bebe. Ver a bebida que lhe servem sair da garrafa e nunca beber no copo de outra pessoa. Saber quem são os amigos mais chegados e a discoteca para onde vão. Ensine-lhe que a lealdade aos amigos nesses lugares deve ficar suspensa quando eles decidirem fazer estragos ou andar à pancada.
2 Seleccionar e fixar a discoteca
Nas primeiras saídas, fixar a discoteca para onde ele (ou ela) irá. Se diz que vai para a discoteca A é na A que deve ficar. Circular na noite é perigoso, muito em especial para quem está a começar a vivê-la. Só assim os pais poderão a qualquer momento saber onde estão os filhos.
3 Leve-os à discoteca
É óbvio que não será sempre assim, mas pelo menos nas primeiras saídas, procure levar o seu filho ao local de diversão para ter uma noção do que
o espera. Depois de ele entrar, se achar por bem, fale com o segurança e peça-lhe para ele dar um olho. O profissional fica a saber que aquele jovem tem o pai a acompanhar o processo…
4 Vá buscá-los
A única forma de garantir ou controlar o regresso a casa em segurança é ir buscá-lo. Se não for você a ir, ligue-lhe à hora combinada. Para manter o regresso controlado, vá buscá-lo ou combine com um taxista, envie um Uber ou combine com alguém que vá buscar outro jovem. Pode ser uma forma de garantir algum controlo. Afinal, nenhum filho quer ser apanhado a fazer más figuras e arriscar uma quebra de confiança logo nas primeiras saídas.
5 Pergunte
No dia seguinte, converse com o seu filho sobre como decorreu a noite. Falem do que ele viu, do que ele próprio fez e do que viveu. Sem julgar e sem se exaltar. Evita que se fechem na sua concha e que contem na próxima saída…