Não é novidade que Sérgio Praia, que se sagrou um dos grandes nomes da representação nacional, após viver o protagonista do filme “Variações” e que agora veste a pele do pérfido Raul na nova novela da TVI, teve uma infância e uma adolescência muito complicadas. Na praia do Furadouro, em Ovar, de onde é natural, o artista abriu o seu coração a Manuel Luís Goucha em “Conta-me” e voltou a falar dos momentos mais dolorosos da sua vida, que se relacionam com o facto dos pais não aceitarem que ele enveredasse pela carreira artística.
Além de ter relatado um episódio dramático, em que a mãe chegou a queimar as suas sapatilhas de balé, Sérgio Praia recuou à época em que abandonou o lar para concretizar o seu sonho. “Decidi fugir de casa e ir para o Porto. Roubei 40 contos [hoje é cerca de 200 euros] ao meu pai. Abri-lhe um cofre com um pé-de-cabra. Fiz um saco com atum, salsichas, velas, uma carta de uma amiga do Porto, umas calças e sapatilhas de balé. Fugi pela praia. Fui até Esmoriz”, contou.
No entanto, a vida na Invicta não foi fácil. Dormia nas obras “numas casinhas que existem em qualquer obra, onde os trolhas guardam as marmitas”, contou, acrescentando: “E comia na rua… o que encontrava”, disse, comovido. Perante todas as dificuldades, o ator achou que seria melhor voltar para junto dos seus pais, porque, apesar de tudo, em casa nunca lhe faltou conforto. “Entreguei-me na esquadra de Valongo, o meu pai foi-me buscar no dia a seguir. Voltei para casa e, depois, eles mandaram-me para um seminário, durante uns meses, para eu refletir sobre a minha vida e sobre as minhas escolhas. Ali percebi que realmente estava certo”, afirmou.
O ator afirmou que a relação com os pais é ainda hoje muito difícil e que, apesar de os amar, o contacto entre eles é quase inexistente. “Nunca tive ajuda de nenhum deles e não os culpo… Nunca tive uma ajuda para perceber o que é gostar ou sentir carinho, nunca senti isso dos meus pais”, explicou, em lágrimas, a Manuel Luís. Porém, durante a entrevista, foi surpreendido com uma mensagem de apoio do progenitor, que chegou a apelidar de “um homem violento” e que o deixou ainda mais emocionado.