Era uma vez, uma menina que veio de Angola para Portugal com apenas 5 anos de idade, com a mãe grávida e a deixar o pai para trás… Filha mais velha, com cerca de 9 anos já cuidava dos irmãos mais novos numa casa que nem sempre era a mesma e onde faltava muita coisa, mas principalmente afeto. Marisa Cruz recorda infância traumática: “Fui para a cama muitas vezes sem comer”.
Como filha primogénita, Marisa Cruz cresceu com peso da responsabilidade. Tem sete irmãos, mas apenas um em comum com o mesmo pai e a mesma mãe. Numa viagem no tempo, a atriz regressou a uma infância que, segunda a própria, “nenhuma criança merece”.
Marisa Cruz recorda infância traumática: “Fui para a cama muitas vezes sem comer”
“Todos já vivíamos com aquela realidade e já sabíamos que podia não haver e era só esperar até haver outro dia, até as coisas se resolverem, até aparecer alguma coisa”, recordou a, também, apresentadora, emocionada. “Muitas vezes, estava sozinha com eles e tinha de inventar o que ia fazer, às vezes era só massa com atum, às vezes eram só batatas cozidas, era o que havia. Muitas vezes, estava sozinha com eles, faltava à escola, andava sempre a saltitar de um lado para o outro, mas vivíamos felizes nessa realidade”, lembrou ainda. “Fui para a cama muitas vezes sem comer”, acrescentou.
Na mesma entrevista, contou também que para conseguir beber um chá docinho, ia a cafés, com os irmãos, buscar pacotes de açúcar para ter em casa. “Não tinha a perspetiva de: ‘Vou estudar para seguir isto’. Não, o meu sonho era viver o dia a dia. Não vivia infeliz, mas era sempre um desafio. Para mim a realidade era aquela”, contou a Daniel Oliveira.
Mãe vítima de violência
No meio de tudo isto, onde estava a mãe de Mariza Cruz? A atriz e apresentadora revela: “Não sei… ou estava com as amigas… O que eu sei é que estava muitas vezes sozinha com eles”. Por esta altura, já a mãe da atriz se tinha juntado com outro homem que, durante anos, foi o padrasto da, também, modelo. Um momento marcante – recordado por Marisa Cruz – foi quando a comunicadora soube que o pai, que estava separado da mãe desde que tinham vindo de Angola para Portugal, tinha falecido. “O dia em que soube que o meu pai morreu, que foi de uma forma violenta, foi no meio de uma discussão com o meu padrasto e com a minha mãe. Eles já se tinham separado e ele já estava com outra mulher”, explicou. “Como eu era a mais velha, a minha mãe levava-me para todo o lado. E ela foi ter com ele, tirar satisfações”, começou por contar. “Soube da morte do meu pai durante uma discussão entre a minha mãe e o meu padrasto. Ele disse-me: Estás aí a olhar o quê? O teu pai já morreu e nem sabes!”, revelou a comunicadora.
Com a mãe exposta a “situações menos boas”, Marisa percebia que ela e os irmãos não viviam num ambiente pacífico. Nunca viu a mãe ser agredida, mas percebia que a mesma era vítima de violência doméstica. “Não presenciei o ato, mas vi como ela estava a seguir”, admitiu, assumindo ter tido “muita vergonha” durante muito tempo. “Mas se passei por tanto e consegui ter uma vida com algumas conquistas, tenho dois filhos que são incríveis, tento orgulhar-me”, reforçou a atriz.
Pai na prisão
A atriz nunca mais teve a oportunidade de ver o pai e soube da morte dele por outra pessoa. “O que me foi dito foi que morreu num acidente de automóvel [no Brasil, para onde fugiu]”, revelou Marisa a Daniel Oliveira. Do pai guarda apenas uma memória. “Lembro-me daquele momento em que o vi, o único momento que me lembro de estar com ele… Foi na prisão”, começou por dizer. A, também, apresentadora confessou a Daniel Oliveira que “nunca soube ao certo” o que se passou para que o seu progenitor fosse detido, mas recordou, com emoção, o momento em que o viu, pela primeira – e única – vez, com apenas 10 anos. “Lembro-me de me oferecer um fio de ouro, de ele estar feliz, de eu estar bem… Foi um momento bonito. Gostava de ter tido a oportunidade de ter assim um ou outro momento mais presente, de ter vivido alguma coisa com ele para me recordar mais dele”, disse com a voz trémula.
Durante a entrevista, Marisa Cruz revelou que nunca questionou a ausência do pai na sua vida, porque “ele não estava cá, estava fora. Esteve em Angola, depois foi para o Brasil. Achava que algum dia iria estar com ele”. Mas a verdade é que nunca mais esteve com o progenitor depois deste encontro na prisão. A atriz confessou, finalmente, durante a entrevista, que gostava de ter vivido mais com o seu pai e que, apesar de ter ficado tudo por dizer, ainda hoje comunica com ele. “Falo muitas vezes com ele, eu sinto que ele não estando cá fisicamente, agora, onde quer que esteja, acredito que me orienta, me dá força”, disse.