Em “Madre Paula”, da RTP1, Paulo Pires, 50 anos, é D. João V, um monarca que protagonizou uma história de amor proibida e polémica com uma jovem freira que durou até à sua morte e da qual resultou um filho. Já em “A Herdeira”, a nova novela da TVI, é Joaquim, o chefe de uma rede de narcotráfico, casado com uma mulher muito mais nova, que irá fazer mal a muita gente.
Na novela é um vilão, mas durante muito tempo coube-lhe essencialmente papéis de galã. O que prefere?
Personagens intensas. É verdade que há uma tendência para encaixar atores num tipo de personagens e é muito giro quando os realizadores arriscam e “saem da caixa”, porque às vezes há grandes surpresas. Mas o Joaquim de “A Herdeira”, lá porque é um vilão não quer dizer que não possa ter boa pinta e ser sedutor. Os maus também sabem amar!
E quem é este Joaquim?
É um chefe do narcotráfico, um homem metido em negócios ilícitos. Tem uma formação académica, nasceu numa família com posição, mas é a ovelha negra. É uma personagem gira. Por exemplo: é um vilão, mas gosta muito da mulher, Beatriz (Mafalda Marafusta), é mal–amado porque perdeu a mãe muito cedo e o pai gosta claramente mais do irmão, Vicente (Lourenço Ortigão), apesar de ele tentar sempre agradar ao pai.
Em “A Herdeira”, faz par romântico com Mafalda Marafusta, que tem metade da sua idade, e em “Madre Paula” com Joana Ribeiro, que também tem 25 anos…
É verdade, não sei o que se está a passar! Durante muito tempo trabalhei com mulheres da minha idade, agora estou na fase das mais novas. O que quero deixar claro é que não foi um pedido meu!
Como foi trabalhar com a Joana Ribeiro?
Foi excelente. A Joana é uma atriz em ascensão, com quem já tinha trabalhado no filme “A Uma Hora Incerta”, em que éramos pai e filha.
O que talvez choque mais o público na série é a promiscuidade sexual dos padres e das freiras. Que reações tem tido na rua?
Têm sido boas. Uns dizem que gostam de ver, outros ficam chocados e brincam comigo, em jeito de provocação. Contudo, acho que as cenas de sexo nem sequer são um aspeto muito forte da série. Francamente, penso que podíamos ter feito mais cenas dessas. Séries históricas como “Os Tudors” e “Versailles” tiram muito mais partido do sexo. Nós fomos muito mais comedidos.
Voltando à novela, entrou na história anterior da autora, a Maria João Mira, “A Única Mulher”, que foi um sucesso, mas teve cerca de 500 episódios, o que levou a vários atores queixarem-se de cansaço…
É verdade, e já falei com ela sobre isso. Mas não parece a nenhum de nós que isso se vá repetir.
Foi difícil?
Para mim, não, pois não tinha uma personagem muito presente na história, o que me permitiu ao longo desse tempo fazer duas peças de teatro e dois filmes. Ou seja, eu arejei, para os protagonistas é que é muito duro estar agarrado a uma produção assim.
Este ano fez um filme em Itália, no qual também entrou o Virgílio Castelo. Como é que isso aconteceu?
Sim, foi a primeira obra de um realizador italiano chamada “Rapiscimi” [“Rapta-me”]. Gravei com o Virgílio em Itália e, como somos amigos, foi muito divertido. Espero que o filme seja exibido cá.
Tem trabalhado muito no estrangeiro?
Sempre que é possível. Recentemente, tive a oportunidade de fazer uma série espanhola, mas quando me convidaram já estava na novela e não pude aceitar. A TVI já tinha aberto uma exceção para me deixar fazer a série para a RTP1 e fiquei-lhes muito agradecido. Não podia voltar a fazê-lo…
Quer dizer que se vai dedicar em exclusivo à novela?
Este ano já não faço teatro, mas a primeira metade de 2018 já está preenchida com uma peça que vai reunir um elenco incrível. E talvez haja uma segunda…
No meio de tantos trabalhos, onde fica a família? As suas filhas não lhe cobram o pouco tempo livre?
Não, elas percebem que é uma consequência do meu trabalho, que traz coisas boas e más. Há alturas em que fico fora dois ou três dias; noutras, tenho a possibilidade de tirar folgas em dias que os outros pais não conseguem. Não é um drama, só temos de nos adaptar.
E como é que lidam com o facto de terem um pai famoso?
A mais nova tem 5 anos, não nota, e a mais velha, de 13, lida normalmente. Claro que se estiver com pressa de ir a algum lado e eu for parado dez vezes para me pedirem uma selfie, ela fica sem paciência.
É muito abordado na rua?
Tenho imenso respeito e carinho pelo público e gosto que me reconheçam na rua, me abordem e me falem sobre os meus trabalhos, contudo, há uma coisa que não gosto mesmo que me façam: que me apontem uma máquina fotográfica sem dizer nada. Não sou uma zebra no jardim zoológico! Tem de existir respeito. Pedir-me uma foto é uma prova de respeito, apontar-me uma máquina é que não.