Cerca de dez meses após o início das gravações, as gravações da história da TVI escrita por Maria João Mira dão-se por concluídas. Pedro Barroso, que se entregou de corpo e alma ao seu Roni Raña, o intenso cigano de “A Herdeira” garante que “o final da novela é bonito”.
“É muito bom olhar para o amadurecimento, principalmente um papel que tem a responsabilidade de retratar um universo como a etnia cigana”, explica. O Roni “passou por vários estágios” e dores. “É a forma como ele escolhe passar por estes conflitos que o torna mais maduro.”
Para Pedro este é o papel, provavelmente, “mais marcante” da sua carreira, e toda a parte de investigação e vivência foi essencial. “A linha em que me baseio é a necessidade do trabalho de pesquisa e de campo. Preciso de acreditar naquilo que estou a fazer e, acima de tudo, sentir um bocadinho de magia. Depois… o resto acontece!”, assegura, contagiando com o inegável entusiasmo com que encara cada ação. “Obviamente que preciso dos meus colegas para trabalhar. Isto só aconteceu porque fui muito bem recebido pela comunidade cigana e a direção de atores me permitiu trabalhar da forma que quis”, reconhece sobre todo o processo, acrescentando: “No início foi uma luta, porque não me queriam deixar ir por este caminho. Queria abordar o romani [idioma dos povos nómadas] e, inicialmente, foi um pouco confuso para eles, porque os meus colegas não falam tanto romani. Foi uma luta, mas as lutas são o que marca a diferença”.
“Precisei de me transformar”
Os conflitos internos e a adaptação ao guião fazem com que, ao longo do tempo, também se transforme enquanto ator. “Comecei a descobrir-me nesta forma de trabalhar num filme que fiz com o Bruno José, ‘E Amanhã’. Fui dormir para a rua para fazer um mendigo. Isto para dizer que preciso mesmo de fazer este trabalho de campo, falar com pessoas com histórias”, recorda. Para garantir credibilidade a Roni, Pedro precisou “de acreditar” em muita coisa: “Tive de me transformar com o meu irmão Ivan [Rodrigo Trindade], precisei da energia dele. Precisei também da energia de um elemento muito bonito que vai aparecer mais à frente [a filha Colette], que é qualquer coisa de inacreditável”, sublinha Pedro, ele que passou “de um Roni impulsivo para um ser humano muito mais paternal e que tem de estar muito mais presente”.
Na hora dos elogios, o ator não esquece dois colegas de elenco, Kelly Bailey e Lourenço Ortigão, pela forma bonita como trabalharam e pela parceria que garantiram. Sobre o ator que interpreta Vicente na trama, Pedro Barroso recomenda que ninguém perca o seu trabalho numa fase em que a personagem entra no mundo das drogas: “Fez um ótimo trabalho! Tivemos cenas muito bonitas e tive a oportunidade de conhecer melhor o Lourenço, o que, a nível de trabalho, foi muito bom”.
“Sinto a necessidade
de ser feliz”
“Este trabalho não foi compartimentado… Só foi possível em grupo e apenas assim engrandecemos. Tem sido muito partilhado e isso é bom”, assegura o intérprete, de 32 anos, que se entregou ao ponto de ter passado um mês em comunidades ciganas: “Continuo a estar! Em Viana fui muito bem recebido pela família Maia. O André foi uma pessoa muito importante. Os valores são os mesmos, mas existem costumes”.