1- Sobre o caso Queiroz não quero, nem devo, alongar-me. O que realmente penso fica comigo, e de qualquer forma não caberia nesta página. Basta manter a cabeça fria para perceber que há muito cravo e ferradura na matéria. Dois exemplos: não acredito que Queiroz não pense por um segundo na questão do dinheiro, como me disse olhos nos olhos, como também acredito que todo este novelo foi, de facto, uma forma cobarde de o afastarem por motivos que nunca serão desvendados. O afastamento do seleccionador, desta forma, será uma história sem inocentes. Mas há uma figura que, se não queria ser arrastada pela corrente, deveria ter tido outro tipo de atitude, e não dar azo a que se pense tanto em polvo. Sim, o animal metafórico que, atrapalhado, Queiroz ainda me tentou convencer que foi chamado ao acaso, como se pudesse ser comparado a uma nuvem ou tempestade. Do outro lado, dizendo, no seu jeito sereno e diplomático, que não fala ou reage, Laurentino Dias não tem feito outra coisa. Anda a falar do assunto desde o início. E não podia ser mais claro o que pensa quando se apressou a aplaudir o inquérito da Autoridade anti-doping. Ali, sem mais sombra de dúvida, o secretário de Estado demonstrou que Queiroz tem razão para desconfiar que os dados estão há muito lançados, e que o seu afastamento é uma questão de tempo e de argumentos mais ou menos rebuscados. Há muita coisa que nunca ficará clara, desde logo, as verdadeiras razões por que tudo isto aconteceu. Mas parece-me óbvio que Laurentino Dias não poderá nunca dizer que se manteve de fora de toda a polémica. Esteve demasiado por dentro, demasiado activo. Para quem diz respeitar tanto as instituições que de si dependem, deixou demasiados recados a deixar bem claro o que preferia que acontecesse. E não é que aconteceu mesmo? Há coincidências espantosas.
2- Vi recentemente, num jornal, que a virgem Margarida é cronista. Trata-se daquela rapariga que "fundou um clube de virgens", seja lá isso o que for. Tive-a, aliás, como convidada num debate sobre sexualidade que moderei. Perdi-lhe o rasto, pensei que se eclipsara, o que seria condizente com a insignificância e irrelevância do seu "movimento". Mas percebo agora que devrá assinar esta página de jornal há muitas e muitas semanas. E de que consta o diário da Margarida? Adivinhou: palavritas pungentes sobre a sua vidoca, onde lateja a eterna questão: terei eu já deixado de ser virgem? É isto, e só isto, que a miúda tem para oferecer. Nos meus tempos de miúdo, havia um anão lá no bairro. Por mais que fizéssemospor encará-lo com normalidade, ele não deixava. Só falava da sua condição. Esfregava-nos na cara que era anão. E não, não em auto-comiseração. Pelo contrário: provocava-nos, para que lhe "confessássemos" que, por dentro, o achávamos um aborto da Natureza. E todo o dia gritava, como se estivesse só nessa luta, que era uma pessoa como as outras. O que nós aceitávamos sem problema, mas ele dizia não acreditar. Para que a sua condição fosse o centro de tudo. Ou a única coisa. Era o que o anão tinha para oferecer. Margarida é desta espécie. Só tem a sua "deformidade" para oferecer. E como nasceu já na época dos patéticos aproveitamentos mediáticos, cedo percebeu que essa sua condição "esquisita" lhe poderia trazer vantagens: Vantagens, hoje em dia, é ser-se "famoso". O jornal só convidou Margarida por ela ser já conhecida por ser virgem. E a virgem aceita. Aceita escrevinhar, com talento de bebé, as suas aventurinhas. Que são sempre alguém a querer tirar-lhe a virgindade e ela a fazer-se difícil, porque acredita no "amor". Tristes tempos. E triste Margarida, quando alguém lhe acabar com o sofrimento, acabam-se os 15 minutos de fama.