1 –
Em relação à crítica, nada a fazer: existe, e continuará a existir. Todas as artes e alguns ofícios têm de se haver com ela. Estão sobretudo nos jornais e revistas. Convivo com ela há muitos , muitos anos, e já em diversos ramos. Se embandeirasse em arco com os elogios, ou me deixasse ir abaixo com as pancadas, já não andaria por cá. Mas a crítica, convém lembrá-lo de vez em quando, não é matéria de ciência, mas sim opinião, subjectividade pura e dura; por isso (convém) vem assinada. Trocando por miúdos, viva a liberdade de haver quem nos atira a sua opinião sobre determinado assunto, ou acontecimento, ou pessoa, ou programa. Têm todo o direito a exprimir-se. E interessa pouco ou nada a minha opinião sobre as opiniões: de todos os que vou lendo, dou crédito (e bastante) a dois. O resto (na minha modesta opinião, que também a tenho, se me permitem) é confrangedora paisagem árida de ideias e, sobretudo, desconhecimento da coisa criticada. Ou, para quem cá anda há alguns anos, oportunidade para mandar recados encomendados. Adiante. Lê quem quer, viva a democracia. Mas o que uma crítica não pode, ou não deve fazer, é faltar à verdade para sublinhar um ponto de vista, ou, coisa mais comum, não referir toda a verdade, quando convém. Aconteceu nas últimas semanas: um crítico quer mandar a SIC abaixo, e louvar a TVI e RTP. Poderia fazê-lo calmamente, ao abrigo inesgotável do direito à opinião. Mas quis "legitimar" a coisa com "factos". Numa primeira análise a determinado dia nas televisões generalistas, dá-nos o exemplo acabado da "pobreza" da SIC, que "só" tinha uma entrevista a Francisco Louçã, enquanto, ao mesmo tempo, a TVI entrevistava Passos Coelho, e a RTP Mário Soares. Há, antes de mais, o inusitado insulto que menoriza Louçã, mas isso é entre eles os dois. Mas o que me interessa, sobretudo, é que ao ler a coisa, me ocorreram duas ou três perguntinhas de algibeira: não houve na SIC, antes desta, outras entrevistas? Não passou pela SIC, recentemente, Paulo Portas? E, antes dele, não foi na SIC que Passos Coelho deu a sua primeira grande entrevista já com eleições no horizonte? E, antes dele, não foi na SIC que Sócrates afirmou em directo, que estava pronto para eleições antecipadas?! Nessa noite em questão a SIC tinha "só" Louçã? Tinha. Era o quarto de uma série de entrevistas com os líderes partidários. Mas o crítico "esqueceu" o pormenor. Mas não se esqueceu de voltar à baila com o assunto, tão seguro está de ter descoberto exemplos da "fraqueza" da SIC. Numa entrevista a alargada a Nuno Santos, novo director da RTP, lá volta o exemplo dessa noite: Soares na RTP, Passos Coelho na TVI…e Louçã na SIC. Coitadinhos, são mesmo de outro campeonato, não é?… Nuno Santos, com a destreza de raciocínio que lhe é reconhecida, foi diplomata a tornear a questão, remetendo-a, aliás, para o lugar que lhe pertence: o da sua irrelevância inconclusiva. Porque o Nuno sabe que, amanhã ou depois, será a RTP a entrevistar Louçã, enquanto, talvez, na SIC se entrevista um qualquer peixe muito mais graúdo. E daqui a umas semanas o contrário. E daqui a uns meses o contrário. E então? Que conclusões se tiram daqui? E, sobretudo, como é possível resumir a uma noite uma matéria que é, mais do que todas, uma corrida de longo fundo, e, aliás, interminável? Não, nunca me apanharão a responder a uma crítica que emita uma opinião, por mais desagradável que seja lê-la. Prezo muitíssimo o direito à liberdade de expressão. Mas aqui passou-se uma outra coisa. Não se demonstram alhos exibindo bugalhos.
2- Hoje é dia de decisão para a Taça de Portugal. Mais um escaldante Benfica-FC Porto, em clima de matar ou morrer. Mas seria bom que estas metáforas se ficassem por aqui. O clima entre os clubes está de tal forma, que um dia ainda há uma desgraça, e sempre quero ver quem sacode a água do capote. O crescendo de agressividade tem de terminar. Os dirigentes têm de pôr água na fervura, sob pena de serem, para sempre, co-responsáveis pelas vergonhas de retiram cada vez mais famílias assustadas dos estádios.