
Já está disponível em todas as superfícies comerciais “Casa”, o novo romance espiritual de Gustavo Santos, editado sob a chancela da Pergaminho. A obra, que reflete em todas as personagens traços do seu autor, foi escrita durante um período de enorme mudança na sua vida. Gustavo separou-se de Sofia Lima, mãe dos seus dois filhos, Salvador, de 4 anos, e Xavier, de 1, e, após um processo de extrema dor, conseguiu reerguer-se e reencontrar a felicidade ao lado da nova cara-metade, Fernanda Zimmermann, com quem namora há cerca de cinco meses. O autor acredita que a sua obra tem a capacidade de tocar toda a gente e promete surpreender os leitores.
Fale-nos um bocadinho deste seu novo livro.
Quando comecei a escrever já tinha posto na cabeça que ia voltar ao romance espiritual. Decidi regressar a um nicho que tem muito por explorar aqui em Portugal. Ao contrário de um livro de desenvolvimento pessoal, em que começo por escrever o índice e vou-me guiando por aí, aqui é mágico porque todos os dias me estou a surpreender, não sei para onde o livro vai.
E do que trata este “Casa”, é uma obra autobiográfica?
Houve quem lhe chamasse um épico espiritual. Eu não o chamaria assim, mas… o livro é muito bom, mesmo muito bom. Este livro tem várias personagens e em todas elas estão bocados meus, de níveis diferentes de consciência meus e de diferentes idades minhas. Mas a história é ficção. São várias histórias de amor: um menino e uma menina apaixonam-se, depois separam-se e mais tarde voltam a encontrar-se. A diferença aqui é que isto já aconteceu com eles noutras vidas e em vários lugares do mundo. É um épico porque não é daqui, ele vem de lá, passa por aqui e segue. Exatamente como nós, que não nascemos só nesta vida e morremos e acabou. Vimos de lugares, passamos por aqui porque temos trabalhos para fazer e depois partiremos para outros sítios.
Quanto tempo demorou a escrevê-lo?
Cerca de quatro meses. Sou pai a tempo inteiro quando estou com os meus filhos e, portanto, não escrevia quando estava com eles. Então, compensei nos dias em que não estava. Sou muito disciplinado. Primeiro vem a disciplina e depois vem a intuição.
A quem se destina?
Vou entrar num nicho, no do romance espiritual, ou seja, este não é um livro comercial que vá agradar a todos. É uma obra que pode tocar em toda a gente, mas acredito que tenha uma maior aceitação por pessoas com um nível de consciência mais espiritual. É, claramente, um livro mais destinado às mulheres, tem uma energia feminina brutal! O título é feminino, tem a ver com o lar, com a família, mas era para ser ainda mais forte, era para ser “Útero”. Só aí se vê a conotação feminina gigante que tem.
Tem estado afastado da vida pública. O que fez nos últimos anos?
A partir do momento em que fui pai a minha prioridade passou a ser essa. Com o nascimento do Salvador comecei a desconectar-me da vida pública para me ligar ao que realmente queria: ser pai, todos os dias, ver os meus filhos crescer no campo, daí a minha mudança para o Alentejo. Comecei a fechar a minha vida porque queria viver a paternidade, e foi a melhor escolha que fiz. Nunca tive o meu pai presente. Por isso, foi uma decisão minha muito consciente, mesmo sabendo que poderia ter danos colaterais muito fortes. E tive-os.
A separação da mãe dos seus filhos foi um desses danos colaterais?
A rutura era algo impensável há uns meses, apostei todas as fichas na minha relação, mas senti, sentimos os dois, que não estava fácil. Nós também não facilitávamos a nossa vida, estávamos sempre com os filhos, tínhamos menos tempo para nós, entrámos num desgaste grande e foi decidido que cada um devia seguir o seu caminho. Temos hoje uma relação incrível, como não existe.

E entretanto já refez a sua vida amorosa…
A magia de um ciclo a fechar é sentir a frescura de um novo a chegar. E foi isso que aconteceu. Permiti-me morrer, senti uma dor que nunca pensei que existisse. Uma dor mais profunda que esta só se acontecesse alguma coisa aos meus filhos, e nisso nem se pensa. Vivi a maior dor de todas e sobrevivi. Estava num monte, eu e a terra, não procurei distração nenhuma. Todos os dias enfrentei a minha dor, curei-me da morte do projeto família. Tive dez dias numa dor lancinante, dez dias a sofrer a conta-gotas, em que cada segundo custa a passar. Mas em dez dias fiz o ‘luto’ e apaixonei-me. E a vida é linda!
O casamento e mais filhos fazem parte dos planos?
Não pensamos em casamento para já. Estamos a ir passo a passo. Começámos o nosso relacionamento com a consciência de que podíamos não estar 100% preparados para tal, mas era tão bom que tivemos a ousadia e coragem de nos envolver enquanto ainda estamos a resolver o que temos para resolver. Podíamos ter ficado à espera? Não, porque a vida não pára. Ter mais filhos não faz parte dos planos. Eu tenho dois, ela tem dois, estamos bem assim.