1 Permitam-me voltar atrás no tempo, que a história já tem algumas semanas. Foi o tempo de procurar um pouco na internet, à procura de mais pormenores, visto que a coisa me parecia estranha da primeira vez que apareceu nos jornais. Refiro-me à revolta de Oprah Winfrey, que garantia ter sido vítima de racismo numa loja na Suíça. As razões? Bom, a multimilionária apresentadora indignou-se porque estava a ver malas, gostou de uma, e a funcionária ter-lhe-á dito que tinham outras, do mesmo género, igualmente vistosas, e que até eram mais baratas. Oprah atirou-se ao ar, e na primeira oportunidade desatou a dizer que tinha sido humilhada, segundo ela, porque o que a rapariga fez foi claramente demonstrar que achava que Oprah não teria dinheiro para pagar aquele balúrdio, e ainda segundo a ofendida, “claramente porque achou que uma negra não teria tanto dinheiro”. Logo na altura me pareceu rebuscado, mas enfim, tudo é possível. Ao voltar a ler minunciosamente as declarações de Oprah, da funcionária e dos donos da loja, fico convencido das minhas primeiras impressões: é mais um fantasma na cabeça de Oprah do que propriamente uma humilhação racista. Atenção: eu, o leitor ou leitora, não estávamos lá, nunca poderemos saber exactamente o que se passou, mas exactamente por isso me causou desconforto a pressa justiceira com que foi relatada a história por todos os outros que também lá não estavam, com todos os títulos e textos do lado da apresentadora, que vergonha o que lhe fizeram, coitadinha, etc etc. Ora os factos, e apenas eles, permitem desde logo uma interpretação diferente, se assim o quisermos. E eu quero. Já percebemos de que se queixa Oprah. E a funcionária em causa, o que diz? Diz que não lhe passou pela cabeça humilhar a cliente. Que se está a marimbar se atende brancos ou negros. Que se limitou a seguir uma indicação que tem, a de apontar que a loja tem outras soluções à disposição: caso a primeira falhe, há outras oportunidades de vender um artigo, e é para isso que lhe pagam. Do que vi e ouvi, pareceu-me legítimo, vale o que vale. Mas insisto, pareceu-me verdadeira. Vista a coisa sem olhos de novo rico ou pato bravo: por que diabo é que alguém, apenas por ter muito dinheiro, tem necessariamente de comprar a coisa mais cara da loja? É a pergunta que eu gostaria de ter feito a Oprah! E perguntar-lhe também onde foi tirar a ideia de que a rapariga o fez pela cor da sua pele? Tem a certeza de que não o terá feito com mulheres brancas? Ou será (como me parece) que Oprah pensa muito mais na cor da sua pele do que qualquer um de nós? Spike Lee, o realizador, é igualzinho: qualquer pessoa que olhe para ele mais de três segundos, é porque no fundo lhe está a chamar negro. Spike Lee, que se lamenta porque vive num mundo racista, mas só faz filmes com negros, que contam histórias de grandes injustiças cometidas sobre negros. E nada mais. É só o que lhe interessa. Oprah, como alguns outros negros influentes americanos, está tão concentrada apenas e só na cor da sua pele, que louva feitos de negros, a começar pelo Presidente Obama, muito mais pelo facto de serem negros do que pela capacidade demonstrada. Esquecendo que é o pior que pode fazer pela “causa”: porque é o mesmo que dizer “vêem, apesar de ser negro conseguiu isto e aquilo”. Mas o mais notório, e triste, é que a verdadeira ofensa de Oprah não será tanto o racismo, real ou imaginário na sua cabeça. O que a chateou foi que a funcionária pudesse não ter percebido que ela é muito rica, e podia comprar não só a mala mais cara, como até a loja, para depois despedir a infeliz. Parece-me que Oprah tem pena de não ter podido exibir o seu dinheiro, o que para ela é muito mais importante do simplesmente desfrutar dele em silêncio.
2 Fiz uma pausa no trabalho ao computador, a meio da tarde, fiz um zapping para ver o que se passava em canais do cabo, e ao passar pelo CMTV confesso que me detive por instantes, desconcertado com um cenário e uma entrevistada. Percebo pouco depois que se trata de Liliana Queiroz, julgo que modelo, e a apresentadora dá-lhe os parabéns pela “produção ousada” que fez para a “TV Guia”. Mostram as fotos. Confere com o que foi dito. E é quando Liliana corrige: não, não foi uma produção, ela foi, coitada, apanhada por um paparazzo na praia. Até a apresentadora engoliu em seco. Mas Liliana insiste. Não sabia de nada, até foram umas amigas que lhe mandaram mensagem no Facebook a avisar. Por favor: sabendo o que diz Liliana, arranje maneira de ver as fotos. Espero que ria tão alto como eu. Faz bem à saúde.