
N ão é diferente de carne de vaca, tem o mesmo gosto e a mesma consistência suculenta”, afirma Jorge Beltrão Negromonte Silveira, canibal condenado a 23 anos de prisão pela morte de três mulheres, no Estado de Pernambuco, Brasil. “Para as pessoas estarem seguras, eu, Jorge, tenho de estar aqui. Senão mato outra.” Além de não ter revelado sinais de arrependimento no julgamento, Jorge alega ser esquizofrénico e diz que parou de tomar a medicação a pedido da amante. As suas duas cúmplices foram condenadas a 20 anos de prisão.
Triângulo amoroso
Jorge Beltrão Negromonte Silveira, 54 anos, Isabel Cristina Torreão Pires, 53, a mulher, e Bruna Cristina Oliveira da Silva, 28. “Chamava a atenção de qualquer uma. Fui eu quem tomou a iniciativa de o abordar”, conta Bruna, amante de Jorge desde os 16. “Eu dava a vida por ele. O nosso amor era de conto de fadas”, continua. “Sabia que era casado, mas a Isabel, a mulher dele, tinha um outro namorado na época e ele vivia comigo”, explica. A par de Bruna, Jorge mantinha uma relação com a sua mulher, Isabel.
Ritual de purificação
Os três são agora conhecidos como os “Canibais de Garanhuns”. Atraíam as mulheres para trabalharem como amas. Depois de mortas e sangradas, retiravam a pele das vítimas (que consideram impura), esquartejavam-nas e congelavam a carne. Mais tarde, cozinhavam e comiam–nas. Os restos e ossos eram enterrados no quintal da casa onde moravam. Em tribunal foram ouvidos Lamartine Hollanda, psiquiatra forense, e Paulo Berenguer, o inspector que dirigiu as investigações.
Cozinhar mulheres
Jorge diz que era a sua mulher e a amante quem preparava a carne. “Cozinharam um guisado mexicano, com legumes. Não me lembro se alguma vez as fritámos como um bife. Comprei uma máquina de moer para a Bruna fazer carne moída, mas eu não tenho a certeza se ela usou. A carne durava três ou quatro dias. Fazíamos o almoço e jantar, até que tudo se foi”, contou, relatando os rituais satânicos e canibais em que mataram as três mulheres. Diz ele que Isabel e Bruna escolhiam as vítimas. Elas devolvem a acusação.
Empadas humanas
Quando os habitantes de Guaranhuns souberam que, involuntariamente, tinham comido os restos mortais das vítimas nas empadas que Isabel vendia nas ruas por um real, ficaram repugnados. O próprio chefe da polícia confessou que adorava as empadas. No tribunal, o canibal português contou como recheavam empadas.
As vítimas
Os crimes ocorreram entre 2008 e 2012, até que as buscas por Jessica levaram a polícia à casa que o trio habitava. Ali encontraram, no frigorífico, os restos mortais de Jessica Pereira, 17 anos, Gisele Helena da Silva, 21 anos, e Alexandra da Silva Falcão, 20. A filha de uma das vítimas foi encontrada a viver com este trio. Tem 5 anos. Quando confessou as mortes, Jorge disse que “aquelas três mulheres só iam dar escumalha”.
Quem é
Alto, magro e de olhos claros, estudou em Coimbra dos 7 aos 12 anos, depois foi para o Brasil. Jorge Silveira, 54 anos, professor universitário na área da Motricidade Humana, cinturão negro de karaté, está preso desde 2012 em Pesqueira, no Nordeste do Brasil. Diz que matou para purificar as vítimas e as entregar a Deus. Previsto, organizado e manipulador nas conversas, oscila entre o discurso de inocência – “Eu sempre respeitei a vida. Não matei ninguém” – até às confissões onde conta as vozes que ouve – “Não são demónios! É um querubim e um anjo!”.
“Revelações de Um Esquizofrénico”
Antes dos crimes, esteve, durante dois períodos breves, internado em hospitais psiquiátricos. Afirmou sofrer de esquizofrenia paranóide e confessou ter utilizado carne humana para alimentar a filha de uma das vítimas, uma criança de 18 meses que terá assistido à morte da mãe. Muito antes de ter praticado os três crimes, realizou o filme “Espírito” (1994), recheado de cenas de canibalismo e homicídios. Segundo o próprio, as mortes das vítimas eram para purificação das almas. Publicou um livro “Revelações de Um Esquizofrénico”, onde, em 48 páginas, narra as alucinações e o canibalismo vivenciados pelo seu triângulo amoroso.