
Antes das considerações, os factos. No passado dia 14, às 19.03 h, a plataforma digital NTV, pertencente ao “Diário de Notícias”, publicou algo sobre mim. Chamo-lhe “algo” porque, na verdade, não lhe posso chamar notícia, ou reportagem, ou entrevista. O Algo era para dizer aos seus leitores que eu participei numa novela. Já passaram 30 anos mas isso é um pormenor para a NTV. A introdução é esta, e passo a citar “É um dos mais respeitados pivôs da televisão portuguesa MAS (maiúsculas minhas) houve um tempo em que tentou fazer uma perninha nas novelas. Não, não estamos a brincar”. Eu também não estou a brincar: isto é uma mentira, pura e simples. Eu não tentei fazer uma perninha nas novelas, porque isso seria ter tentado uma carreira no meio. O que eu fiz, e a NTV só explica em texto mais pequeno, foi ajudar o Nicolau Breyner, que precisava de alguém para um pequeno e insignificante papel em poucos episódios. Nunca mais “tentei” nenhuma perninha, o que já estava decidido. Há outra mentira no Algo da NTV: dizem que eu quis seguir publicidade, por ser uma área criativa, o que é verdade, mas que “percebi logo que em Portugal não poderia ir por aí”. É falso. Esse “percebi logo” refere-se ao desejo que tive de escrever argumentos para cinema, muito diferente, e que jornalistas que escrevem sobre mim, desenterrando banalidades do baú, tinham a obrigação de saber. Declaradas as mentiras, os considerandos. Há, subliminar, um insulto aos atores de novelas. Porque reparem que sou muito respeitado MAS QUASE PARECE QUE tenho um passado obscuro, quis entrar nesse mundo. Há ainda, vital para a “notícia”, as profissões do meu pai e da minha mãe. E há ainda um pormenor importante: isto foi publicado no dia dos meus anos. Contactei depois a autora da “notícia”, que me confirmou, aliás, que a intenção era “assinalar o seu aniversário”. Sou jornalista há 32 anos, com vários prémios, tenho 5 romances publicados, o primeiro em 1992, escrevi argumentos para cinema, uma peça de teatro, contribuí publicamente para causas como a defesa dos direitos dos animais ou a luta contra a violência sobre mulheres. Mas no dia do meu aniversário a NTV quis presentear–me com a informação preciosa, para os seus leitores, da minha perninha numa novela. E a intenção é tão querida e tão pura que a legenda da minha fotografia diz isto “O ar sisudo, o cabelo já grisalho e as rugas de expressão são a imagem de marca de Rodrigo GC”. Ou seja, de uma penada chamam-me velho e mal-encarado. Não posso garantir intenções dos outros mas posso ter sensações (e sentimentos). Acho que a única intenção foi apoucar-me. Embora quem deva sentir-se ofendido são os atores de novelas, eles que peçam explicações à NTV. A minha triste opinião é que isto foi feito para gozarem com a minha cara. Não lhes agrada, pelos vistos, que eu esteja quieto e sossegado no meu canto, a cumprir o meu trabalho, sem ser visto em palhaçadas indignas, escandaleiras ou sobre-exposições ridículas. Não me adiantou muito. Ou melhor, adiantou. Aprendi mais uma coisa sobre colegas de profissão. E aprender é sempre bom, não é?