
Nem sei bem o que diga, e receio, ainda por cima, ser ultrapassado pelos acontecimentos, à velocidade a que o presidente do Sporting nos traz surpresas. Alguns, mais novos, talvez não se recordem, mas comecei a carreira no jornalismo desportivo, há mais de 30 anos. Tenho, pois, a minha dose de conhecimento farto sobre este mundo tão particular do futebol português. Vi, escutei e vivi um pouco de tudo, em várias gerações de dirigentes e jogadores. Mas nada, absolutamente nada, com o espectáculo que nos chega de Alvalade. Conheci presidentes com tácticas e planos para se fazerem notar no tempo certo, os que optam por falar de forma cirúrgica, quando convém e com um propósito, e que sobretudo sabem escolher ainda melhor os silêncios. Entre todos, quanto mais não fosse pela espantosa longevidade, a nível mundial, há que destacar Jorge Nuno Pinto da Costa. Como qualquer figura do futebol, imensamente amado e profundamente odiado, nem outra coisa seria de esperar quando se trata de representar uma cor que quer vencer as outras. Mas, goste-se ou não, Pinto da Costa não poderia, em circunstância alguma, manter o poder todo este tempo se não observasse uma rigorosa maneira de estar. Que por vezes foi excessiva, que por vezes se confundiu com incitamento, que tantas vezes escolheu uma certa vitimização, caso as coisas não estivessem a correr bem, como quem pretende desviar atenções. Mais as queixas com que pretendeu representar não só um clube mas toda a região norte contra o centralismo da capital. Foi tudo isso, é sabido, mas foi também a contenção e silêncio quando percebia ser o melhor para resguardar o clube, ou mesmo ele próprio. Em resumo, ergueu uma figura que se tornou, como se diz muito agora, incontornável. Como é óbvio, para que tudo isso resultasse numa ideia de grandeza invejável, era absolutamente necessário que o Porto ganhasse. O futebol tem uma lógica simples. Por isso só nos últimos tempos, em que o Porto atravessa uma secura de títulos, se começou a ouvir falar de alguma contestação a Pinto da Costa. O normal. E porque começo com Bruno de Carvalho e vagueio por Pinto da Costa? Porque me parece evidente que os candidatos a presidentes, nas últimas décadas, para o bem e para o mal, observam o líder do Porto. E podem até não gostar dele, proclamarem-se seus inimigos, mas não lhes escapa a noção de que Pinto da Costa é um vencedor, com uma espantosa capacidade de adaptação a tempos que mudam, e a figuras que entram e saem do nosso futebol e política. Acontece que Bruno de Carvalho, se alguma vez pensou vir a ser um histórico no lugar, e se pensou inspirar-se em alguma postura forte, belicista, tantas vezes provocatória, de Pinto da Costa, entendeu tudo mal. Porque, em meu entender, atravessou aquela linha vermelha que separa os verdadeiros líderes dos chefes temporários; manter corajosamente a calma quando a pressão atinge o máximo. Mostrar estatura. Já tinha havido de tudo um pouco, e nem vou lembrar as assembleias gerais, as ameaças. Bastou perceber que o Sporting iria morrer na praia do campeonato mais uma época para começarem os disparos a torto e a direito, o desespero de quem sabe que será julgado brevemente pelos adeptos. Acontece que na ânsia de arranjar culpas e tentar sair a assobiar, fez o que me parece profundamente lamentável: virar as balas para a própria equipa, para o emblema que merece o maior respeito, que já existia antes dele e certamente continuará, com nobreza, a existir. Perguntem a Jorge Nuno Pinto da Costa se faria tal coisa. E depois façam as contas ao seu tempo de liderança.
