1- No espaço de uma semana, assisti a dois espectáculos que penso traduzirem os opostos do futebol. Um, em Alvalade, em mais uma interminável conferência de Bruno de Carvalho. Outro, em Kiev, numa emocionante final de verdadeiros campeões, onde o Real Madrid, como sempre, entrou para ganhar. De Alvalade já tudo se disse, até à náusea, e parece ser balão que começa, felizmente, a desinchar. Bruno de Carvalho gosta de criticar o circo mediático, de dizer, inclusivamente, que o ataque a Alcochete foi exagerado pela comunicação social. Quando parece óbvio que quem precisa, contínua e obsessivamente, do circo mediático, é ele próprio, que só parece saber existir numa lógica de confronto e de holofote. É assunto que já enjoa, e enjoa também, é verdade, pela antena aberta que os órgãos de comunicação social lhe deram: tivemos de ver em directo e sem interrupções toda e qualquer intervenção que Bruno de Carvalho entendesse fazer: e quis fazê-las a qualquer hora, a propósito de tudo. É assunto que fica por aqui. Resta-me o lamento de recear que os sportinguistas ainda não tenham percebido o ponto a que deixaram tudo isto chegar, mas que os próximos tempos, a começar pela próxima época, lhes demonstrarão, inequivocamente. Enquanto por cá se assistia a este espectáculo degradante de futebol no seu pior, feito de bastidores de ganância e violência, a final da Champions recordou-nos o que pode e deve ser o futebol. O Real venceu, todos o sabemos, mas num jogo dramático, onde um jovem guarda-redes do Liverpool cometeu dois erros de amador iniciado. Erros que custaram a taça à sua equipa, que a certa altura se vê a perder com o golo mais estúpido do mundo, e mais à frente, ainda com margem para sonhar, se vê afundar em mais um incrível frango. Vem o apito final, o Liverpool sai vergado, e já não adianta saber como teria sido se o guarda-redes evitasse aquelas duas absurdas asneiras. Perdeu, e pronto. Imagino que se fosse Rui Patrício teria sentença de morte dos próprios adeptos. O que vimos? O jovem guarda-redes, em lágrimas, o peito em convulsão, dirige-se aos adeptos a pedir desculpa. Os adeptos, tristes por perderem ali mais uma final, devolvem-lhe uma estrondosa ovação. Um conforto, um carinho, a dizer-lhe que acontece, que não será isso a quebrar o elo mais forte de uma equipa, a razão de ser das grandes equipas: a aliança adeptos-jogadores. Emoção pura, uma comoção, o futebol é feito delas, e de nada mais. É um jogo, é um momento onde por uma hora e meia alguns milhares, entre jogadores e público, vestem uma mesma cor de camisola e assim se sentem irmãos. A atitude dos adeptos do Liverpool é espantosa e uma lição que recorda aos mais esquecidos o que deve ser o futebol, essa festa. É curioso pensar que, nos anos 80, o Liverpool era o terror da Europa, por causa da selvajaria das suas claques, que mataram pessoas e causaram a expulsão do clube das competições europeias. Se o Liverpool soube passar desse estado animal para esta demonstração de classe, significa que ainda há esperança noutros clubes.
2 Tive a honra de apresentar um livro que é uma experiência espantosa para quem se interessa por jornalismo e História. “Uma Vida em Directo” é a jornada profissional de Luís Costa Ribas, correspondente da SIC nos EUA, contada pelo próprio. Com um texto muito bem cuidado, acutilante e despretensioso, recheado de fotografias que trazem memórias. Foi um verdadeiro prazer lê-lo e apresentá-lo. Tem cenas de bastidores de momentos históricos, que ajudam a perceber a dimensão da riqueza deste jornalista de quem me orgulho muito de ser colega e amigo há tantos anos.