Há um sinal de alerta que me preocupa bastante, como jornalista. O que se passa nos Estados Unidos é particularmente grave. E sabe-se que a América costuma ditar tendências… É grave porque basta ler os sinais para se perceber que a eleição de Trump, tão discutida e surpreendente, acabou por ter ondas seguidistas na Europa, com sucessivas eleições a levarem ao poder ideias xenófobas e extremistas e divisionistas e nacionalistas. Por isso me preocupa, e de que maneira, esta perseguição assanhada e crescente de Trump aos jornalistas. Começou com umas subtilezas de humor duvidoso, até chegarmos ao ponto em que estamos: insulto directo e violento e, pior, incitamento à agressão do povo aos jornalistas, mais ou menos claro. É preocupante, sim, mas ainda mais me preocupa o que se seguiu. Algumas sondagens mostram que um número assustador de norte-americanos concorda com o Presidente, concorda que a comunicação social é inimiga do povo, mentirosa. O que isto demonstra é que talvez se tenham equivocado os que se apressaram a dizer que isto do Trump acaba já nas próximas eleições. Não me parece. Pelo andar da carruagem, e sem se ver aparecer ninguém com estatuto para lhe fazer frente, temo que Trump avance para uma nova campanha com justificada esperança. Ele faz o mais imprevisível, disparatado e irresponsável, e nada se passa. Pior: vai ganhando seguidores, como mostram as sondagens.
Poucos dias depois, enquanto centenas de jornais reuniam os seus editoriais a lembrar ao povo que não são os seus inimigos, Trump foi capaz de mais uma extraordinária demonstração de sobranceria e deselegância. Acabara de morrer Aretha Franklin, uma mulher que ocupará um lugar de destaque merecido na História. Trump falou dela com desprendimento, sem uma pausa respeitosa, para dizer que “hoje morreu uma pessoa que julgo que vocês conhecem bem”…Só isto já seria ridículo e desrespeitoso, nem sequer dizer o nome de Aretha. Mas o pior estava para vir. Trump consegue lembrar-se de dizer isto: “Eu conhecia-a muito bem, porque ela trabalhou para mim muitas vezes”… Consegue, de uma penada, falar mais de si do que da artista espantosa que acabara de partir, e também a coloca apenas como mais uma espécie da multidão de serviçais que foi tendo ao longo da vida. É difícil imaginar ideia e frase mais infelizes…
Neste Agosto, chega também dos EUA uma das revelações mais escabrosas do século, ouso dizer. A dimensão da descoberta dos crimes de violação e abuso de menores na Igreja Católica é absolutamente arrepiante. São décadas e décadas, milhares de vítimas, um sem-fim de criminosos, devidamente encobertos pelos superiores. É de tamanho tal a vergonha que, feitas as contas, podemos concluir que esta aberração era, de facto, a norma. Pouco faltará para se perceber que aconteceu a qualquer criança que alguma vez entrou naquelas dioceses. É um assunto que deixa de rastos uma instituição como a Igreja, que prega o que prega, que deveria ser precisamente o contrário disto, um local de segurança. Lamento a importância absolutamente relativa que se está a dar ao caso.