
Esta sexta-feira, dia 20, Pedro Lima comemorou o aniversário de uma pessoa que lhe é muito querida: a avó. O ator fez questão de partilhar uma fotografia em que surge ao lado de Bernadette, a mulher que o criou depois de ter sido enviado de Angola para Portugal.
Num texto emotivo, Pedro Lima enaltece o esforço feito pela mulher a quem carinhosamente trata por “Vovovas”, admitindo que foi ela quem se tornou na sua figura materna.
Leia o texto na íntegra:
“A grande referência da minha vida completou ontem 90 anos.
Nasci em Angola mas, com um ano de idade, os meus pais mandaram-me para Lisboa para ser criado pela minha avó Bernardette, baptizada por mim nesses primeiros anos de vida por Vovocas .
Hoje, depois de alguma terapia, sei que aquela viagem para longe da minha mãe configura um abandono que marcou muito a minha relação com as mulheres até uma certa idade.
Mas durante toda a vida nunca senti a falta de mãe porque a Vovocas preencheu o espaço feminino de referência afectiva de que uma criança necessita.
A sua forma de transmitir amor sempre foi ligada à dimensão funcional da vida. O cuidado permanente para andar asseado, ter a comida que eu gostava, a roupa lavada, os agasalhos para não ficar doente, um ou outro brinquedo que me alegrasse, uns ténis da moda quando era possível.
Foi com esta matriz afectiva que me formei e era a única que sabia transmitir até conhecer a Anna com quem tenho aprendido outras formas de afecto.
A Vovocas cuidou assim de três filhos, de mim e da minha irmã, da mãe Ermelinda até à sua morte, de mais dois netos que nasceram quando tinha já 65 anos, de 7 bisnetos e agora do pequeno João Maria, o seu único trineto.
Depois de uma vida até aí com bastante conforto, nos anos 80, período em que o FMI intervencionou a economia portuguesa, a Vovocas foi obrigada a ter 3 empregos para garantir a sustentabilidade da família: trabalhava com administrativa na empresa de mobiliário FOC durante o dia , era telefonista no jornal O DIA à noite e ainda fazia bolos e pastéis em casa que vendia no bar da FOC.
Não me lembro de alguma vez sentir a sua ausência em casa.
Lembro-me da acordar com a energia dos seus passos enquanto preparava o dia antes de o sol nascer.
Deixava sempre tudo organizado para que eu tivesse o maior conforto possível.
Este exemplo é o legado que me deixa e que tentarei transmitir aos meus filhos.
Ah! … e nunca teve nenhum homem para ajudá-la.
Conhecem mais alguém assim?
Eu não, só a Vovocas!”