A pessoa mais importante nestes 9 anos?
Sem dúvida que foi a minha mãe! É maravilhosa, a minha mãe não existe! Desculpem-me todas as mães do mundo, mas… acho que ela tinha de ser minha mãe. Não sei se o destino estava traçado. A minha mãe tinha de ser minha mãe! Só ela podia lá estar para passar por isto tudo, sempre com um sorriso e com aquele olho verde a brilhar.
Uma nova vida
Foi importante saber que podia erguer-me fora da ribalta. Tive de arranjar outro meio de subsistência, outro modo de vida e poder aprender a viver com muito menos. A minha vida, de repente, cabia toda numa caixa de sapatos, bem pequenina. Aprendi que também posso ser feliz com muito menos. E sou muito mais feliz! Voltar à televisão não se tornou a coisa mais importante para mim. O tempo foi passando e não senti a necessidade de o fazer. Foi tudo muito de repente e muito tumultuoso, precisei de me erguer novamente como a Sónia Margarida e não como a Sónia Brazão. A Sónia Margarida para mim tornou-se a mais importante.
Abandonada pela televisão
Estive 15 anos ligada à TVI, tinha respeito pela entidade. Foi onde comecei, mas eu era mais uma atriz, não era a Sónia. Senti-me abandonada! Mas não há nada a perdoar porque não é pessoal. Magoa, mas não é culpa de ninguém, é minha porque coloquei expectativas nisso. Eu tive logo um convite da TVI para fazer uma novela, mas a personagem… eu não estava preparada, era tudo muito recente.
Acidente ou tentativa de suicídio
Hoje ainda não consigo dizer, se fui eu, com a medicação, que fui pôr a máquina a lavar e aquilo aconteceu. Não consigo explicar! Porque só me recordo de tomar a medicação e de me deitar a dormir! A palavra suicídio entrava no meu vocabulário! Entra no vocabulário de qualquer ser humano e quem negar está a mentir. O que não fazia sentido para mim é como as coisas aconteceram e quem eu era naquela altura. As lesões no meu corpo, os locais mais afetados não batiam certo com essa teoria. Mas claro que me pus em cheque.
As memórias dos momentos seguintes ao acidente
Tenho a noção de que alguma coisa me aconteceu e de acordar no apartamento. Lembro-me de sentir uma dor horrível. É um flash que eu tenho e guardo essa memória. Recordo-me de me quererem tocar, de gritar muito e de não querer que me tocassem. Do apartamento não recordo mais nada, porque fui sedada e apaguei.
Segunda pele
Tive de aprender a olhar para mim de uma maneira menos crítica. Aquilo também é bonito… tive de aceitar a transformação, a regeneração, porque, afinal, era uma segunda pele. Tinha de aceitar, acarinhar e agradecer por tê-la. Foi um processo longo nestes anos, mas que me deixa muito feliz.
Regresso à realidade
Deixar a bolha de amor onde tinha estado no hospital e vir cá para fora foi muito difícil… Lá dentro não tinha acesso a informação do exterior. Quando cheguei a casa, liguei a televisão e a primeira notícia que vi foi a morte do Angélico. Tive um ataque de pânico.
O momento mais crítico
Tive duas paragens cardiorrespiratórias e nesse momento percebe-se que o meu corpo está a entrar em falência. O que leva o nosso corpo à exaustão é uma anemia grave, há uma grande perda de músculo e o corpo entra em falência. O grande medo dos médicos era a falência dos rins e do coração. Aí acabava.
Recuperação e milagre
Estive um mês e meio internada no Hospital de São José. Os médicos disseram à minha mãe que eu ia ficar pelo menos dois anos. Sabia que ia sair do hospital bem. Considero-me um milagre. Não é um acontecimento comum. Morre muita gente na Unidade de Queimados. É um sofrimento muito grande. Por vezes não temos capacidade de resistir.
Tratamento inovador
Esperei nove anos, tinha de ser assim para fazer alguma coisa. Ainda bem que apareceu o tratamento certo e eu agradeço ao universo, mas eu já estava de pazes feitas com a minha pele. O processo ajudou a aceitar o envelhecimento.