Esta não é a primeira vez que José e Miguel Raposo trabalham juntos. No entanto, é a primeira em que pai e filho o fazem desde a morte repentina de Maria João Abreu, em maio último. E a verdade é que, como reconhece José Raposo, involuntariamente, o trabalho acaba por ter uma função absolutamente terapêutica nesta fase de luto. “Enquanto atores, o nosso trabalho é tão prazeroso que, quando o estamos a exercer, não é que esqueçamos os nossos problemas, mas em cima do palco há uma espécie de clique e é como se estivéssemos noutra dimensão. Dá-nos a possibilidade de estar noutro patamar e ali no palco, mais até do que no plateau, não há mais nada. É uma coisa que nos preenche a vida de uma forma mais bonita”, confessou José Raposo no ensaio geral de “Chicago”, em cena no Teatro da Trindade, em Lisboa.
Um sentimento partilhado com o filho mais velho do ex-casal de atores. “É uma sorte poder trabalhar com o meu pai, um privilégio”, afirma Miguel, de 35 anos. Visivelmente feliz pela possibilidade de trabalhar de novo com o filho, especialmente nesta fase de luto em que a família tem sido o principal pilar, José Raposo, de 58 anos, não perde a oportunidade de elogiar o seu talento e trabalho. “O Miguel é intuitivamente um grande ator, tem um talento inato incrível e é um orgulho enorme para mim. Felizmente não é a primeira vez que trabalhamos juntos, em 2012 fizemos uma peça e também já trabalhámos juntos em cinema e televisão”, lembrou, salientando ainda: “Tem um sabor especial porque, além de ele ser o ator que é, enquanto colegas de profissão também temos uma relação espetacular”.
Recorde-se que Maria João Abreu, mãe de Miguel e ex-mulher de José Raposo, morreu a 13 de maio, vítima de aneurisma e depois de alguns dias a lutar pela vida no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Infetado com Covid-19, Miguel Raposo não pôde estar presente no último adeus à mãe, o que terá sido, de certeza, um momento muito difícil.