Depois da morte do pai, que decidiu pôr fim à vida no dia 20 de junho de 2020, o seu primogénito, iniciou uma viagem pelo reconhecimento da importância da saúde mental. É, decerto, um pouco nesse seguimento que decide eternizar no papel os seus pensamentos e reflexões sobre a vida, dando origem à sua primeira obra literária. João Francisco filho mais velho de Pedro Lima, lança 1.º livro: “Eternizei os meus pensamentos”, assume, primeiramente.
“Já Não Sou o que Era agora Mesmo”, editado sob a chancela da Oficina do Livro, já se encontra, aliás, à venda. Nele não falta uma homenagem ao pai, numa ode em que o descreve como um “homem bom, justo, belo, genuíno, sério, admirável”. Contudo, João Francisco explica ainda como lidou com a partida prematura de quem tanto amava. “Aquando da morte do meu pai, dei por mim a sentir um vazio abismal na minha existência. A combinação de sentimentos que ostentava era avassaladora e frequentemente culminava em longas sessões de pranto”, pode ler-se, igualmente, no livro.
A revista TvMais falou com o jovem, que, acima de tudo, não esconde o orgulho por ter conseguido concluir este projeto pessoal. “São poucos os momentos na minha vida em que me lembro de parar para apreciar algo que construí, concluí ou conquistei. Este é definitivamente um deles. Eternizei os meus pensamentos, a minha intimidade, a minha existência no papel”, afirma, em suma. Leia a entrevista, em seguida.
O que é que o levou a escrever este livro?
A motivação que tive para o fazer foi a perceção de que, se o escrevesse, estaria a dar uma oportunidade aos leitores de se reverem, de se identificarem, de se questionarem e de levarem a cabo uma reflexão sobre si próprios.
Tem por hábito escrever?
Nunca escrevi propriamente. Aparentemente, em criança escrevia quadras em cantos de papel e entregava-as às pessoas, mas perdi o hábito da escrita por largos anos. No entanto, sou um apaixonado por palavras, gosto de ter um léxico diversificado e rico.
Como descreve esta obra?
Este livro conjuga as minhas catarses, que se objetificam em poemas, com as questões existenciais que os originam, estas sob a forma de texto corrido e que pretendem expor a forma como as abordo, sem necessariamente culminar numa resposta completa.
A quem se destinam as suas palavras?
Aos curiosos. Não pela minha vida, mas pela sua própria pessoa. Aos que se permitem sentir e que trabalham para se descobrir e compreender. Contudo, este livro é para quem toma a decisão consciente de viver.
Qual o significado do título, “Já Não Sou o que Era agora Mesmo”?
A maior parte das questões abordadas – como o amor, a saudade, a consciência, o destino, as relações com os outros e o nosso papel no mundo – são as que nunca se fecham, que se redefinem. Como tal, celebrando essa componente imutável da constante mudança do que somos, que difere de quem somos, decidi que este nome seria o mais indicado para o que a obra representa.
Quanto tempo demorou a reunir os textos que nele constam?
Aproximadamente um ano. A escrita da poesia continua, mas as reflexões foram propositadas para a obra.
Há alguma parte do livro que gostasse de destacar? Porquê?
Destaco o prefácio, onde aludo aos que decidem tomar as rédeas da vida e refletir sobre as suas experiências como forma de se guiarem para as que surgirem. E a conclusão, onde deixo a reflexão do que me levou a começar a minha jornada como testemunho, e desejo aos leitores contentamento.
Fale-nos um pouco do seu dia a dia.
Resume-se a fazer 16 horas parecerem 32. Trabalho numa multinacional americana e sou responsável pelos mercados do Médio Oriente, África e Israel. A minha semana resume-se a sete, oito horas no escritório, fazer exercício, trabalhar na advocacia de saúde mental/bem-estar, cozinhar e passar tempo com as amizades que fiz aqui em Dublin, onde vivo.
Porque decidiu viver fora de Portugal?
Essencialmente pela falta de capacidade do nosso país de criar condições à prosperidade dos jovens. A situação política é confrangedora, a económica miserável e a cultura de trabalho é nociva. Com muita pena minha, caminha a passos largos para, como descreve Tomás Ribeiro, um jardim à beira-mar plantado.
Tem planos para regressar?
Vejo distante o momento em que serei capaz de retornar com condições que garantam o meu bem-estar e o da eventual família que quero construir. Espero estar enganado, porque a Portugal não falta potencial, mas falta quebrar a inércia. Pesam-nos as memórias do passado, mas a verdade é que o mundo anda para a frente, e, enquanto Portugal se recusar a fazê-lo, quem está com pressa apanha boleia noutras carruagens. Por muitas iniciativas que existam para o regresso dos que saem, a verdade é que estes incentivos pouco ou nada apelam àqueles que passam a conhecer as realidades alternativas. À parte o bom tempo, os amigos e a família, pouco ou nada há mais.
Percorra, por fim, a galeria de imagens. João Francisco filho mais velho de Pedro Lima, lança 1.º livro: “Eternizei os meus pensamentos”.