






A Bárbara de “Mulheres”, da TVI, e a Júlia de “Mar Salgado”, da SIC, não se conhecem mas têm muito em comum. Ambas são personagens fictícias, espancadas pelos respetivos companheiros.
“É importante falar sobre violência doméstica, quer seja na realidade ou na ficção. E tem-se evoluído imenso. Até há três, quatro anos não se fundamentavam as histórias das novelas. O agressor era dado como doente e muitas vezes morto no último capítulo. Hoje em dia, tem-se um cuidado especial em dar a perspetiva também de quem agride. O agressor pode ser uma pessoa normal”, informa Daniel Cotrim, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). E, na verdade, esta abordagem nas novelas tem dado bons resultados.
“Há pessoas que nos procuram depois de se verem retratadas na televisão. Não são muitos casos, mas há uma tomada de consciência”, sublinha o técnico, que tem apoiado produtoras, argumentistas e atores a criarem as histórias. “
Nós ajudamos a fundamentar os casos. A justificar alguns comportamentos. A Jessica Athayde, que faz de Bárbara em “Mulheres”, pôde falar com algumas das vítimas”, enumera Daniel Cotrim, que aplaude o facto de a TVI contar a história de uma jovem que sofre de maus tratos.
“Não são apenas as mulheres de 40 e 50 anos que sofrem de violência doméstica. Nem este drama afeta apenas estratos sociais baixos”, argumenta.
Para a atriz, esta experiência está a ser uma das melhores da sua vida profissional.
“Tenho a sorte de estar a viver um papel que, como atriz, me dá pica, mas é horrível porque sei que é real”, explicou Jessica numa entrevista recente. As cenas em que Jorge, o marido da ficção (Luís Gaspar), lhe dá murros e pontapés na barriga são coreografadas e a atriz sai ilesa das pancadas, mas, mesmo assim, são carregadas de emoção.
“Espero que a história da Bárbara sirva para abrir olhos sobre este problema”, acredita.
Filhos sofrem
Numa das cenas de “Mar Salgado”, da SIC, Júlia, personagem de Sandra Barata Belo, é violentamente espancada e empurrada contra a parede pelo marido, Xavier, papel de Marco Costa. A violência dura há anos e o pescador não só a agride a ela como à filha.
“O comportamento do Xavier deve-se ao amor que sente pela mulher, que já não é amor é obsessão, e depois é a questão da proteção. Tudo o que ele faz é para defender a família e a filha dos marginais que andam por aí”, explica Marco. A personagem tem sido para o ator um desafio, que tem de fingir que bate nas colegas.
“Estou muito contente com o desempenho do Marco, ele grita comigo e eu encolho-me logo. Muitas vezes, sou eu a dizer para ele ser mais duro”, explica Sandra.
Também Raquel Oliveira, que faz de Elsa, filha do casal, sente que o seu papel pode ajudar:
“O tema é um grande tabu e é importante alertar as pessoas”.