Houve cenas deitadas fora, momentos regravados e episódios alterados. Apesar da tristeza, Ana Marta Ferreira, Laura Dutra, Dânia Neto, António Camelier e João Reis querem honrar a memória da malograda atriz na trama da SIC
Dânia Neto e Maria João Abreu tinham uma amizade antiga, que se fortaleceu em “Golpe de Sorte”, onde contracenaram muito e continuou em “A Serra”. Por isso, seguir em frente tem causado alguns momentos de aperto na intérprete de Paula. “Tem de se encontrar a força. E normalmente é nos momentos mais difíceis, em que achamos que não vamos encontrar, que conseguimos. Tem sido uma luta diária. Não há outra palavra”, confidencia a atriz, acrescentando que só pensa no final das gravações. “Esta novela teve muitas coisas muito difíceis e foi doloroso para todos. Quero muito encerrar este círculo.”
Tozé é o filho perdileto de Sãozinha e para António Camelier, o seu intérprete, não tem sido um processo fácil. “A personagem da João é insubstituível como toda a gente sabe. Saiu ela, entrou uma outra grande atriz [Noémia Costa] que vai dar uma lufada de ar fresco naquele núcleo. Perdeu-se algo muito valioso para nós não só em termos humanos, como artísticos, mas também se ganhou uma grande profissional e uma boa colega”, confidencia o ator, que regravou algumas cenas. E aquela em que a sua personagem fica a saber que a mãe não volta foi complicada. “Foi difícil para nós, porque foi logo das primeiras cenas que gravámos naquele décor depois de ela ter partido. Apesar de sentirmos uma coisa porque automaticamente nos vem à memória a imagem da João, temos de estar com outra disposição porque a cena assim o exigia”, frisa.
João Reis vai chegar à trama da SIC no papel de Remy, o marido de Sãozinha que regressa à Serra da Estrela para retomar a relação com os filhos. O ator chegou a gravar com Maria João Abreu. “Ainda fiz duas cenas com ela na Aldeia da Mata Pequena, em Mafra, que depois tiveram de ser regravadas. Não vão ser usadas, porque a história teve que ser mudada. Infelizmente não fizemos mais nada depois disso”, conta o ator, explicando que o reencontro entre o casal nunca vai acontecer. “A maior parte das cenas que regravei tiveram que se tirar todas as referências que tinha em relação à Sãozinha.”
Também Laura Dutra salienta que “não foi nada fácil” retomar a rodagem da novela. “É todo um processo. Há duas novelas: uma com a João, outra sem ela, isso é inevitável”, explica. O segredo foi “termos construído uma base muito forte e os manos aguentaram toda a situação por ela, por saber que era isso que ela queria: trazer alegria e estar bem e dar o nosso melhor. Temos esse chip na cabeça e torna-se natural”, afiança a atriz, que dá vida a Guida. “Acho que estamos a honrá-la da melhor maneira.”
Ana Marta Ferreira admite que não tem sido fácil retomar a rodagem de “A Serra” após o desaparecimento inesperado de Maria João Abreu. “É sempre muito complicado, mas tem corrido bem porque este elenco se uniu bastante nesse sentido. Acho que é agarrar e homenagear a energia que a João tinha”, começa por dizer a intérprete de Jacinta, acrescentando que há dias “que custam mais”, mas que pensam “se ela estivesse aqui, estaria a puxar por todos, bora para a frente, trabalhar e dar o nosso melhor”. Por isso, o segredo é tê-la sempre no pensamento. “Nós temo-lo sempre na nossa memória e no nosso coração. É mesmo como se um familiar tivesse partido e nós vamos continuar a homenageá-la e a pensar o que é que ela faria e a força que nos daria.”