1 – Foi o que fez o Procurador-Geral da República. É uma confissão que nos custa a todos, já que andamos tão descrentes com o poder judicial do país: ouvir assim, a seco, que o homem que deveria ter o poder de pôr ordem na casa, afinal, não o tem, ou não sente que o tem. Ficamos mais pobres de esperança, porque mais desprotegidos, mas a vida é o que é. O que já não faz sentido é não haver consequência condigna. Seria de esperar que quem assim se sente dê o seu grito final, para a seguir ouvirmos o estrondo com que bate a porta. Mas não. Pinto Monteiro consegue fazer queixinhas aos jornalistas, enviando recados, mas mantém-se à secretária, à espera que alguém faça alguma coisa. É pena, mas mais uma vez as declarações bombásticas à portuguesa continuam a ser tiros de pólvora seca. E continuamos a aperceber que o apego ao poder é mais forte que tudo o mais. O que Pinto Monteiro disse foi que acha que o seu lugar é vazio, mas que mesmo assim consegue perfeitamente continuar lá sentado.
2- Não tenho, pessoalmente, nada contra Carlos Queiroz. Mas o seleccionador coleccionou, ao longo dos tempos, uma carrada de tiques e manias que me mexem com os nervos. Não passo de mais um treinador de bancada, mas faz-me confusão que, num lugar onde é preciso nervo, intuição e jogo de anca, continue um teórico cheio de planos e esquemas, que se recusa a mudar, desatento às circunstâncias. Dito de outra forma: não ficaria de rastos com a saída de Queiroz, que me parece poder ser muito bem aproveitado noutras funções, mas que não gosto de ver no banco. Mas isso não me retira o discernimento de desconfiar desta artimanha com a qual pretendem afastá-lo. A acreditar ser verdade que utilizou linguagem menos própria quando recebeu a visita matinal de elementos do controlo anti-doping, causa-me estranheza que só agora se fale disso. E algo me diz que se a selecção tivesse ido mais longe no Mundial talvez o caso nem sequer fosse conhecido. Se alguém na Federação acha que Queiroz não é afinal homem para o cargo, que houvesse a transparência honesta de lho dizer na cara, e não andar a desenterrar episódios
paralelos, que, sendo lamentáveis, não deveriam definir o futuro de um seleccionador que tem à porta mais uma campanha para um Europeu. Mesmo que fique, Queiroz trabalhará sobre brasas, num terreno minado que lhe colocaram debaixo dos pés. Quem e porquê: dificilmente saberemos.
3- A notícia passou quase despercebida, no meio de outras, mas causou-me um nojo particular. Em Albufeira, elementos da GNR apontam o dedo a um colega, que teria feito inúmeras fraudes com bilhetes de identidade e cartões de crédito. Só isto já é lamentável e vergonhoso, mas perceber que a suspeita é de que roubaria os documentos de vítimas mortais de acidentes aos quais era o primeiro a chegar, é coisa de provocar o vómito. Há, em todas as profissões, pessoas espantosas e autênticos trastes. Em todas, sem excepção. Mas quando falamos de quem nos deve proteger e zelar pelo bem comum, contra todas as ameaças que fariam da sociedade uma selvajaria, saber disto (ou da suspeita disto) provoca uma repugnante insegurança. A confirmar-se a informação ( e qualquer um é inocente até prova em contrário), é aterrador saber que andaria para aí fardado como nosso protector um mesquinho, insensível e nojento larápio. Pois que não sei se será mais horrível roubar aos vivos ou aos mortos….