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Se ainda não compreendeu porque há tanta polémica com a anunciada privatização da RTP, repare como a equação é simples. Vivemos uma crise profunda, que afecta todas as empresas. Logo, a comunicação social privada não é excepção. O total das receitas de publicidade a dividir pelos operadores já é pequeno, e tem diminuído. Se a RTP passar a ser mais uma empresa privada, o pouco que há para distribuir será ainda mais dividido. Logo, ficam todos a perder. É uma equação simples, que traz agarrado, ainda por cima, um risco acrescido: uma empresa de comunicação só é verdadeiramente independente se respirar um mínimo de saúde económica. A mínima que lhe permita, por exemplo, recusar a pressão de alguém que se apresenta com o dinheiro para sua sobrevivência e que pretende algo mais do que simplesmente informar os portugueses. Pretende, por exemplo, condicionar ou esconder informação de interesse público, se isso for prejudicial para o seu negócio. É fácil entender o risco, é fácil entender que o mercado nacional pode não dar para tudo. Dito isto, é compreensível que os primeiros a revoltar-se contra esta cruzada do ministro Miguel Relvas sejam os responsáveis pelas televisões privadas, Francisco Balsemão e Pais do Amaral. Mas atenção: há uma bola de neve, uma cascata de consequências que afectará, inevitavelmente, toda a comunicação, da rádio aos jornais, que se já lutam com grandes dificuldades, correm riscos ainda mais dramáticos do que as empresas de televisão. Basta pensar que se houver pouco dinheiro para investir em publicidade em vários meios, as empresas deverão continuar a preferir a televisão, o que roubará receitas preciosas à rádio e jornais. Ou seja, uma cascata que pode trazer uma comunicação social muito mais pobre e medíocre, e, sobretudo, uma comunicação social tão dependente de quem paga as suas poucas receitas que será facilmente condicionada e amestrada. Este raciocínio e este risco, facilmente compreensíveis por todos, são a batalha das televisões privadas, mas não só. Não têm faltado comentários independentes, de jornalistas, economistas, políticos, que levantam, incessantemente, as mesmas questões. Por isso causa alguma curiosidade (à falta de outra palavra) a determinação do Governo, daqui a pouco literalmente contra tudo e contra todos (…e a favor de quem? eis a grande pergunta). E disse Governo quando deveria ter dito ministro Miguel Relvas, que chamou a si esta autêntica cruzada. Por isso será curioso, repito, perceber quem lucrará afinal com tudo isto, ainda para mais quando ouvimos os mais prováveis interessados garantir que não irão a jogo, porque é campo onde não lhes interessa entrar. Então, desculpem mais uma vez a pergunta tão óbvia: quem? Quem ficará com o negócio? E com que finalidade, já que não poderá evitar as anunciadas dificuldades de um mercado afunilado? Haverá por aqui uma avidez tão grande e apressada, uma sede de comando e poder, que nem sequer mede o passo económico que dará, e que não é necessariamente menos ruinoso do que espera as actuais privadas? E onde fica o tão precioso serviço público de televisão, tão elogiado e considerado necessário pelos autores e actores da democracia de Abril? Vai ser o quê? E há ainda duas questões, tão pertinentes quanto fundamentais, que tornam toda esta história muito mal contada e ainda mais incompreensível. Foi anunciada, com pompa e circunstância, uma tal Comissão de “notáveis” que iria estudar a fundo o problema da televisão pública e elaborar um relatório importantíssimo e detalhadíssimo, que seria a Bíblia do futuro para a televisão paga pelo contribuinte. Curioso que, sem que se saiba em que pé está esse notável estudo e sábias conclusões, o ministro e o actual presidente da RTP já anunciaram o que se segue, ambos cheios de pressa de arrumar o assunto (ou alguém mais com pressa). E a estupefacção maior, a que torna todas as outras tão pequenas, é perceber que a RTP andou anos e anos a funcionar como uma privada, concorrencial e guerreira de audiências, paga por todos nós, a fazer a concorrência mais desleal de que há memória, gastando com isso milhões e milhões e milhões que não lhe custavam a ganhar… Para subitamente, à luz desta nova pressa, anunciar cortes brutais de emagrecimento. Se são possíveis agora, porque não foram possíveis antes? 

Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico

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