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1. Inacreditável tragédia, na semana passada, nos Estados Unidos. Não foi apenas mais uma. Foi a mais aberrante e impensável. Desta vez não foi num campus universitário mas numa escola primária. Todas as outras foram também inesperadas, como são os actos de terrorismo. Mas esta ultrapassa tudo e faz temer tudo. O jovem que avança para o local sabe já que vai abater crianças, sabe já que vai inscrever o seu nome na galeria dos monstros inomináveis, daqueles que suscitam raiva na sociedade com o seu suicídio, que torna impossível fazê-lo pagar. E no entanto… não acaba o desfecho por ser o que desejariam os pais e mães destroçados? A morte do assassino seria, julgo eu, o destino desejado. Mas não haverá a prisão, o julgamento, a sentença de morte, mais do que previsível. Será sempre um dos sentimentos humanos mais irreprimíveis, dos mais difíceis de gerir na sociedade civilizada: quando a negra vingança se torna compreensível, mesmo justificável. É curioso pensar que costumamos atribuir essa tentação ao nosso lado mais animal, quando ela é exclusiva e marcadamente humana. Por mero acaso, ainda há pouco tempo vi com toda a atenção um extraordinário documentário que procurava respostas precisamente para as zonas de sobreposição “sentimental” entre o homem e os restantes animais. Começava na velha questão do sofrimento, como é sentido e percepcionado. Para se “concluir”, dentro do possível, que só o homem tem capacidade de elaborar um qualquer tipo de raciocínio sobre um sofrimento que não seja físico. A questão daria pano para mangas, como tem dado a filósofos, sociólogos, psiquiatras e juristas ao longo dos séculos: todos ocupados em afastar da sociedade o animal que pode habitar em nós, mesmo quando somos vítimas de alguém que não foi capaz de o fazer. São situações delicadas, para reflexão. Quando todos, provavelmente sem excepção, desejámos por momentos que aquele rapaz não se tivesse suicidado e fosse apanhado no calor do momento pela polícia ou por um grupo de pais. Queríamos a morte, sim (séculos de progresso não apagam o “olho por olho, dente por dente”) mas não queríamos que fosse ele a ter esse último controlo sobre o seu destino. Queríamos, acima de tudo, sermos nós a controlar essa morte, a inflingi-la, a provocá-la. Milhões de humanos desejaram naquele dia uma vingança. A ideia mete um pouco de medo: arrepia pensar que temos isto dentro de nós. Sem dúvida. Mas assumo que me conto entre os que pensaram assim. O que diz isso de nós? Quero acreditar que diz que somos humanos.

2. É também simplesmente humano que o primeiro-ministro se sinta cansado e agitado. Ao desgaste puramente físico de tantos meses sem uma folga verdadeira que se veja, junta-se a impiedosa missão que abraçou (e que sabia que o esperava quando concorreu às eleições). Mas factos são factos: Passos Coelho é hoje um homem muito diferente nas relações com os portugueses em geral, e os jornalistas em particular. Basta dizer, o que é facilmente verificável, que está constantemente irritado, o que o aproxima (ironicamente) do seu arqui–inimigo Sócrates. Irrita-se porque o incomodam com perguntas relevantes sobre a actualidade quando está num qualquer momento de agenda irrelevante, irrita-se porque há ainda muitos portugueses que fazem sentir a sua revolta e o seu protesto com o estado do País, irrita-se, sobretudo, porque as pessoas tardam a resignar-se à “inevitabilidade” das suas medidas. Neste particular, admito que compreendo o discurso, e que duvido muito que alguém conseguisse tornear certas medidas mais duras: é fácil estar do lado de fora, na oposição, e garantir que se faria diferente. Mas um dos segredos mais frágeis de cuidar, em qualquer exercício de poder, é o da comunicação e relação. Passos Coelho não pode tratar-nos como garotos malcriados que insistem nas mesmas perguntas, que se queixam a cada novo corte que levam. Se diz que compreende, todo o resto da sua atitude tem de o demonstrar. É lamentável que os portugueses sejam sujeitos a esta hecatombe financeira ainda sem fim à vista, e ainda tenham que ouvir raspanetes e más disposições, como se fôssemos meninos mimados que se lamentam sem razão.

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