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Estava a tardar. Com a multiplicação rápida de manifestações, teria de acontecer, mais dia, menos dia. O que me leva a dizer que não percebo o espanto e a indignação com a carga policial junto à Assembleia da República. Até agora, o País tinha feito justiça à fama dos brandos costumes. Há uma revolta no ar, é certo, há manifestações, é certo, mas só tínhamos assistido a uns insultos aqui e ali, declarações de protesto e crítica para as câmaras de televisão. Depois, era dispersar e penar na próxima. A tudo isto ia respondendo o Governo que até entende, que respeita o direito constitucional que permite às pessoas manifestarem-se, mas que o rumo não pode ser interrompido. Contas feitas, está visto que as acções de rua podem continuar, mas convém não sermos ingénuos: servem para pouco ou nada que não seja alimentar uns minutos excitantes de televisão. Enquanto isso, as imagens que nos chegam de manifestações noutros países mostram um pandemónio de violência, com manifestantes que gritam poucas palavras de ordem e passam logo ao ataque, e uma polícia bem diferente da nossa, que não espera muito para contra-atacar. Desta vez, em Portugal, tudo mudou a 14 de novembro, e aproximámo-nos mais do “modelo europeu” do género. No entanto, e ainda assim, foi mesmo no limite que a coisa descambou. Limite de tempo, limite de paciência, limite de calma. Vi a coisa praticamente toda, desde o início da tarde, até ao momento em que a polícia avança, e contei uma boa hora e meia de agressões perigosas sem resposta. Os agentes da polícia estiveram todo este tempo sob uma saraivada de pedras da calçada e sabe-se lá que mais. Qualquer pessoa que já tenha pegado numa, sabe avaliar o peso, e o estrago que pode fazer se acerta em alguém. A pergunta que faz alguém que seja objectivo, mero espectador sem inclinações ideológicas, não é por que é que a polícia avançou sobre os manifestantes; é como foi possível demorar tanto tempo a fazê-lo. Enquanto o País assistia ao triste espectáculo, e se cruzavam telefonemas entre amigos, alertando para o facto aqueles que eventualmente ainda não estivessem a ver, enquanto se adivinhava as frases “tu estás a ver isto, isto é inadmissível, isto é escandaloso, isto é um abuso”, eu escutava as “reacções” que a comunicação social ia pedindo a figuras relevantes para o momento. Um dos interpelados foi o responsável pelo Observatório da Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, que respondeu à jornalista com a maior calma, dizendo que o que estávamos a ver era absolutamente previsível, e, dentro do género, o mais normal possível. Meu Deus, palavras incendiárias e insensíveis? Não creio. Parece-me reacção lógica, com a frieza que o cargo pede, e resposta de quem tem em mãos matérias mais importantes para tratar. Tudo dentro do normal, explica o general, porque a polícia fez um cordão de segurança à Assembleia da República ao saber de uma manifestação; que os manifestantes protestaram como é seu direito; que depois passaram das palavras aos actos de provocação e agressão continuada; que a polícia deu tempo ao tempo, que avisou que já chegava e que dali a nada teria de fazer uma carga para acalmar as hostes; que as hostes não acreditaram ou fizeram que não ouviram, e que finalmente a polícia avançou. Ou seja, tudo normal, de facto. O que me leva a não entender porque há depois indignações chorosas sobre “a violência indiscriminada”. Como é óbvio, seria vergonhoso ver um polícia avançar deliberadamente a fazer pontaria a um idoso ou uma senhora com criança pela mão. Mas vejamos: que outra forma há de dispersar uma multidão violenta? Com a diplomacia do diálogo? Chegando ao pé de cada manifestante “o cidadão vai-me desculpar, mas rogava-lhe que não me arremessasse mais pedras”? Uma carga, como o nome indica, é uma acção organizada que originará uma boa parte de caos. O conselho simples, para quem não gosta de ser vítima destes “abusos” será…não estar por lá. Ou estar, manifestando-se como é seu direito, mas perceber que assim que há uma chuva de pedras a coisa pode descambar. Não é preciso ser particularmente arguto. Já agora, se é para seguir um modelo de outros países europeus, onde as manifestações são quase sempre assim, seria bom que os nossos protestantes reparassem que não se vê declarações de manifestantes a queixarem-se que levaram. Talvez porque saibam que o jogo é assim. Que o mais provável é levarem, se estão por lá. Que quando se escolhe ir à guerra, devemos ter em conta o ditado do dá e leva. Não é bonito, é perigoso, é arrepiante de ver tantas vezes. Mas é assim. 

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