Medina Carreira

Eu não sei se Medina Carreira é total e absolutamente inocente, ou se terá mancha de culpa no cartório. E basta esta minha frase, que poderá ter sido repetida por milhares de portugueses, para se entender a gravidade da fuga de informação, ou mais uma quebra grosseira do chamado segredo de Justiça. Já o disse inúmeras vezes: há uma quantidade e tipo de casos em que o segredo roça o ridículo, mas a verdade é que existe, continua consagrado na Lei, e, como tal, há que vê-lo respeitado, sob pena de estarmos permanentemente numa bandalheira. A cada novo caso de fuga, ouvimos logo falar de inquéritos rigorosos, de investigação que não olhará a consequências. E cada novo caso deixamos de ouvir falar do assunto passado pouco tempo, e cada novo caso não foi possível apurar responsabilidades. Neste caso, já ouvimos dizer que, ainda por cima, há um número reduzido de possíveis responsáveis, o que deveria acelerar o processo e torná-lo mais fácil. Mas algo me diz que terá o mesmo destino dos outros: o esquecimento, independentemente da manta de suspeição que deixa para trás. A verdade, onde está? Por agora, temos a defesa de Medina Carreira, ou nem sequer isso, as declarações de quem diz ter a consciência absolutamente tranquila: não sabe porque aparece o seu nome no processo, não conhece as pessoas que dizem que conhece, não fez nada de ilegal. Mas o fumo fica no ar, e poderá ter sido essa a motivação de quem lançou o seu nome para a praça pública. Na última semana, ouvi demasiadas pessoas comentar que “afinal o grande moralista também está metido em ilegalidades, quem diria…”. O ex-ministro diz que não está, nem nunca esteve. Que facultou todas as facilidades à investigação, precisamente porque não tem nada a esconder. Mas o português torcerá certamente o nariz. Enquanto aguarda resultados mais concretos, vai comentando que nestas coisas não costuma haver fumo sem fogo. E mais: já ouvi comentários sobre a arte de fazer desaparecer provas, como quem diz que mesmo que o inquérito final ilibe Medina Carreira, isso pode não bastar para convencer da sua inocência. Voltando ao início, não sei se é inocente ou culpado, mas sei que já não se livra de ter sido envolvido no escândalo. Numa das hipóteses, a de ter sido “tramado” por alguém, o mal está feito, seja qual for o desfecho, até porque o desfecho raramente chega. Se a motivação foi “punir” as suas declarações contundentes e muitas vezes desbragadas, que acusam permanentemente a classe política de incompetência e responsabilidade directa no buraco em que nos encontramos, não é precisa grande argúcia que se tratará de fuga de informação “encomendada”. Não há arma mais forte ou eficaz do que descobrir a careca aos moralistas impolutos, abrindo perante todos a caixa onde se escondia a sua hipocrisia. O caso traz sempre um desfecho infeliz e imprevisto, porque chegou ao ponto de deixar apenas duas hipóteses: ou não tem nada a ver com o assunto… ou tem. Se é uma vítima da perfídia de alguém que pretendeu manchar o seu nome, então deve servir de triste lição para todos nós, porque nenhum cidadão estará livre de ver o seu nome arrastado para a lama por quem tem o poder de fazer “escorregar” informação. Pior ainda, talvez, se se viesse a verificar que Medina Carreira tinha esqueletos legais no armário, e que teria contribuído da pior maneira para a sociedade corrupta, abandalhada e perigosa que não se cansa de criticar. Seja como for, o caso vem mais uma vez colocar à prova a mão-de-ferro que nos prometem sucessivos políticos. Desta vez, a ministra da Justiça surgiu com indignação feroz, a garantir-nos que estas fugas de informação criminosas têm de acabar, e que, sobretudo, têm de ter pena exemplar, que acabe com as ideias de quem pretenderia continuar a fazê-lo. Mas, com todo respeito que tenho por Paula Teixeira da Cruz, já todos ouvimos isto noutras ocasiões, com maior ou menor ênfase. E todos sabemos que nunca se ouviu falar de qualquer fulano ou sicrano que fosse punido (exemplarmente ou não) por este crime tão grosseiro e tão fácil. Ainda assim, repito, mal por mal, prefiro que uma figura como Medina Carreira esteja a ser vítima de insidiosa difamação, do que vir a perceber que o seu nome estava lá por fundamentada razão. 

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