Tirando factos que vêm em números, e a sua sempre dúbia explicação, continua a ser um mistério para mim quem vê realmente o quê na TV, e sobretudo porquê. Pode haver inúmeros factores pontuais, como o tédio ou a preguiça de mudar de canal, ou até a vertigem de ver uma coisa má, mas continuo a acreditar que a principal fonte de ignição de uma escolha destas deve ser o prazer. Ou o interesse, ou ambos. Aqui chegados, afirmo que me é absolutamente incompreensível como se pode ver, seguir, acompanhar “Casa dos Segredos”. Digo-o, como repeti tantas vezes nestas páginas, como espectador, e não como elemento da SIC que se pronuncia sobre a TVI. A SIC teve também, ao longo dos tempos, felizmente longínquos, a sua quota-parte de patetices em antena. Andou muitas vezes por terrenos que deveriam ter sido evitados.
Dito isto, voltemos ao show de insanidade e aberração da Casa. Já nem consigo falar, sinceramente, em termos do “mau aspecto” deles e delas. Já nem consigo elaborar duas frases sobre as limitações culturais ou simplesmnete humanas. Porque acho que já todos os adjectivos possíveis deixaram de ser suficientes, ou de dar uma imagem minimamente próxima do que realmente se vê e ouve. “Ai, mas então o sr. Rodrigo Guedes de Carvalho viu?! Então em que ficamos?” Vi, espreitei o tempo suficiente para saber do que falo, que é coisa que gosto muito de preservar, pois essa coisa simples de se saber do que se fala deveria ser aplicada em tudo na vida, nas mais variadas discussões. Mas isso é outra história. E não, não tinha visto, até me deparar com uma frase de uma rapariga do programa num jornal. Dizia ela que uma das suas ambições é (respiremos fundo)… fazer uma tatuagem no sexo com as palavras “forever young”. Respirou fundo? É isto, sem tirar nem pôr.
Fui depois ler coisas mais antigas, espreitei umas cenas aqui e acolá, paralisado como quem se depara com um acidente na autoestrada. É isto e muito mais, sempre do mesmo calibre e a subir. Bom, vamos do particular para o geral. E neste particular da tatuagem, há pormenores que o jornal não me explica, e sinto-me defraudado enquanto leitor. Por exemplo: a tatuagem no sexo será visível a partir de que peça de roupa. Ou só com a menina totalmente em pêlo se pode observar tal maravilha? E será visível a que distância? Basta observá-la no banho, ou será preciso sermos mais descobridores? E a escolha da frase será a mais sensata, ou pode revelar precipitação? Terá a menina pensado que a frase poderá tornar-se, com o tempo, cada vez mais estranha. É que uma tatuagem tem um carácter praticamente definitivo, e pode bem acontecer que fique, um dia, uma expressão desadequada ao embrulho que a segura. Bom, há uma saída, que deixo de borla à menina. Caso o enrugar dos anos chegue lá, pode ser que as dobras de pele apaguem apenas as letras certas, e com sorte fica a ler-se “for you”. Se for o caso, a rapariga poderá sempre dizer ao senhor que a despe naquele momento que sempre fez a tatuagem a pensar nele. E não, nunca nenhum outro viu a coisa. Se o compincha do momento tiver o mesmo nível mental, pode ser que pegue. O episódio da tatuagem é apenas um entre milhares de frases e “pensamentos” da malta da Casa.
Dir-me-ão, como sempre, que são as regras do jogo, que a TV se faz de oferta à procura que se imagina existir. Talvez seja, talvez seja, porque a estação parece esforçar–se, a cada edição, por encontrar personagens que fazem os da edição mais antiga parecer cientistas de foguetões.