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À hora a que escrevo, está por horas a eleição da palavra para este ano. A iniciativa é da Porto Editora. Depois de inúmeras possibilidades, ficou uma lista mais curta, onde não faltava a “Troika” que nos entrou no vocabulário à força, até que restaram duas. E é curioso como são bem apanhadas, ambas, e tão simbólicas dos tempos e da escolha. Parecem opostas. Mas não acho que sejam. “Austeridade” e “Esperança”. A votação vai renhida, ao que parece, e provavelmente quem ler isto hoje já saberá qual ganhou. Para o caso deste texto, pouco importa, e prefiro até estender a indefinição da vitória. Ficaram sozinhas na lista, por parecerem uma branca e outra negra, uma positiva, outra negativa. Como se ao escolhermos uma delas estivéssemos a definir o comportamento que havemos de adoptar. Os realistas cépticos e sérios: votam “austeridade”, porque é preciso não ter medo das palavras e saber que terreno pisamos. Os optimistas, algo ingénuos, com tendência para a facilidade do sorriso sonhador: vão pela “esperança”.  É por estas e outras que não hei-de votar entre estas duas finalistas (e agora releia o título da crónica, lá em cima na página). Pois. É o meu dilema. Acho que ambas se adequam, reconheço força em cada uma, e, mais importante, acho que podem e devem complementar-se. Como reconheço que dou ligeira vantagem à “esperança”. Por feitio ou defeito, fui céptico na juventude, dado a pessimismos que justificava com mal disfarçada arrogância; julgava ver sempre um pouco mais além que os outros, e isso fazia-me vislumbrar um mundo mais negro que os ingénuos não alcançavam. Cansei-me de ser assim. A idade empurrou-me para o caminho onde se busca, incessantemente, o lado bom das coisas, das pessoas, dos acontecimentos. Quando começa a faltar tempo, convém aproveitá-lo bem. Talvez o meu optimismo, ou pelo menos a negação de um pessimismo militante, seja uma arma de sobrevivência. Não sei. Mas sei também que, a respeito de sobrevivência, acabaria por adoptar a “esperança”, nem que fosse pela lei da necessidade, ou a lei da alternativa. De que consta? Bom, de uma pergunta muito simples que devemos fazer em situação limite. Qual é a alternativa? Pormos as mãos à cabeça, no medo do que aí vem? Enfiarmo–nos debaixo da cama, correr as persianas, fechar os olhos com força? Deixarmo-nos abater pelo peso da expectativa? É daqueles momentos em que estamos esmagados contra uma parede. Como se uma mão poderosa nos comprimisse o peito até nos encostar as costas no frio do muro. É o momento de pensar: que te resta? Se não te podes angustiar com a ideia de ires mais para trás ou mais para baixo… procura levantar-te, procura sair de novo em frente. Chama-lhe esperança. Essa luta enquanto houver um sopro de resistência. Que todos temos, todos sem excepção, embora alguns precisem de ser postos à prova. Por isso escolho “esperança”, sem hesitação. Porque, por mim e pelos que amo, recuso-me a acreditar que nos espera o fim de uma era, que a vida voltará a trevas. E no entanto… Sim, creio no fim de uma era. Contraditório? Espero que não. Creio que chegámos ao fim de uma era… económica. Creio que, neste capítulo, nada será como dantes. Acredito que muitos de nós, a serem sinceros e justos quando se olham ao espelho, a sós, assumam, aceitem e confessem que muitas vezes, demasiadas vezes, esticámos a corda para além do possível, para além do razoável: vivemos, quase sempre, acima do que realmente podíamos. Bem podemos culpar a “sociedade”, que nos inundou de novas e galopantes “necessidades”, culpar os bancos, que nos aliciaram com crédito fácil, que nos fizeram acreditar que poderíamos viver muito acima do que temos realmente na conta. A verdade é que deveríamos ter feito escolhas, quando era difícil resistir às tentações.  A verdade é que pensámos nisso, (vou ter de pagar este empréstimo…), ou admitimos que nunca realmente pensámos nisso? Que foi mais um… logo se vê, há-de correr bem. E agora, a força da tal lei da alternativa. Encostados à parede, com o dinheiro a diminuir, somos empurrados para a poupança. E talvez desta lei da necessidade, desta lei dura do que é realmente possível ou não é, nasça em nós uma nova mentalidade. Por isso sim, “austeridade” também. É uma palavra feia que nos caiu em cima e nos verga, mas quem sabe… pode salvar-nos daqui para a frente. Tenhamos esperança de sairmos de tudo isto mais fortes e mais sábios. Não é feito disso o processo de crescimento?    

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