Crescer e aprender andam ligados. E andam ligados à experiência e erro, com o qual, já agora, se aprende bastante mais do que com o sucesso. Dito de outra forma, aprendi, primeiro teoricamente, depois por experiência, que o problema não está no erro (que todos fizemos ou faremos, mais cedo ou mais tarde) mas, sim, no que se segue. O que aprendemos, como nos desculpamos, como nos preparamos para seguir em frente. Serve a introdução, e logo decidirá se faz sentido, para me espantar com a proporção que foi tomando a – chamemos-lhe assim – dialéctica maçonaria e jobs for the boys. Parecem tão diferentes, não é? Mas não são. E não são, sobretudo, a avaliar pela intensidade da cortina de defesa, num caso e noutro. Os maçons estão indignadíssimos, o Governo está indignadíssimo. Os maçons não aceitam, e respondem com dureza de linguagem e modos, à “insinuação” de que a maçonaria será, nos dias que correm, mais uma corrente solidária de amiguismo e influências do que uma qualquer reunião de teóricos que reflectem sobre o sentido da vida e o espaço do indivíduo na sociedade. O Governo não aceita (tal como o anterior, e o anterior, e o antes desse) a “insinuação” de que aposta que, assim que possa, colocará gente próxima em cargos-chave, ou oferecerá de mão beijada posições de influência em empresas chorudas, com ordenado mensal dourado e reforma de platina. Ou seja, à indignação que começa a assaltar a maioria das pessoas, que começam a ver que os corredores do poder são um salvo-conduto que distribui salamaleques e benesses, correspondem os “suspeitos” com indignação ainda mais vigorosa, e, em casos a que assisti, de frontal má-educação para com repórteres que fazem as perguntas que muitos fazem em casa ou nos cafés. Sem querer adiantar injustos juízos de valor, e muito menos meter toda a gente no mesmo saco, importa lembrar que tanta indignação e tão pouca resposta objectiva dá ainda mais para desconfiar do que prudentes e enervantes silêncios. Os maçons, por exemplo, querem fazer-nos crer que são as mais recentes vítimas de uma caça às bruxas, e que é “irrelevante” ou mesmo “insultuoso” ou “fascista” uma ânsia pública para que se assumam como tal. Dito assim, a seco, até poderia ser, ou parecer, mas convém não esquecer o que querem que esqueçamos: que toda esta polémica (que não tardará a esfriar, como de costume) nasceu de notícias sobre suspeitas de ligações perigosas que teriam como tronco comum a ligação à maçonaria. É verdade? É mentira? Não sei, e penso que pouca gente sabe. Mas… é grave e merece investigação ou resposta cabal? Parece-me evidente que sim. Quanto à questão de levar os maçons a assumirem a sua condição, no que concerne a cargos públicos relevantes ou ligações partidárias, embora concorde, aceito que pode ser um caminho perigoso. Mas convenhamos que seria uma boa forma de se poder avançar para conclusões: via-se quem era e quem não era e ligavam-se os pontos no mapa de ajudas e interesses, ao longo dos anos, na política e nas empresas. A quem assusta esta equação simples? Os jobs for the boys, não sendo polémica com encontros secretos à mistura, enferma do mesmo mal de parecerem o que dizem não ser. Confesso que me causou estranheza ver um primeiro-ministro em pessoa a defender a transparência de processos, munido de papelada que exibiu em frente às câmaras, que trarão, ao que entendi, a “prova” de que o Governo não nomeia por apetite partidário. Começou logo mal, a explicação. Porque nos adiantou e garantiu que este Governo até foi “dos que menos gente sua nomeou” para os tais cargos de relevo pagos a peso de ouro. Costumam defender os budistas que fazer menos mal não equivale a fazer o bem…Também não ajudou, claro, que no caso da EDP (e repisaram mil vezes que foram nomeações dos accionistas e não do Governo) viesse Eduardo Catroga, poucos dias depois, espantar-se com a presença, ao seu lado na mesa, de Celeste Cardona. Não sei como ou por que é que ela lá está, afirmou. Se naquela mesa de notáveis escolhidos a dedo, há quem olhe para o lado e se espante, que havemos nós de pensar, ou sentir?
Os Indignados
Espanta-me a proporção que foi tomando a – chamemos-lhe assim – dialéctica maçonaria e jobs for the boys. Parecem tão diferentes, não é? Mas não são